Bruno Parreira | Entradas de Leão

Chegaram com estrondo.

QSintra.

Um movimento de cidadãos.
Mais um.

Se daqueles do caracol ou de utentes do comboio logo se verá. Até porque na ciência dos movimentos já há pouco a inovar.

Portugal só pode ser um país dinâmico com tanto movimento que vai gerando.

Movimento de quê?

“De cidadãos aberto a todos os sintrenses e amantes de Sintra interessados na preservação deste sitio único”

Assinemos todos! Já e de um salto só!

Não há como resistir a tão nobre e desinteressado interesse.

Fui ler. Desilusão profunda.

Uma mão cheia de nada e a outra cheia de coisa nenhuma.

Afinal não há propostas concretas.
Salvar Sintra é afinal bordar meia dúzia de lérias e lugares comuns e seguir fingindo que nos importamos verdadeiramente com este território.

Os sinais estão, no entanto, todos lá.

Dom, Dom, Dom.

Num país republicano não imaginava que existisse tanto dom.

Mas há.

E havendo suas majestades têm de ser respeitadas.

Não querem turistas.
Não querem gente.
Pessoas.

Das árvores gostamos todos.
Só que nem todos fazemos posts pagos em redes sociais com imagens de camiões carregados de lenha dando a entender que já estão a ocorrer abates selvagens nas fraldas da Serra.

Isso de facto não fazemos todos.

Porque antes de manifestos, movimentos e quejandos já existia quem se importasse.

Já havia quem tivesse trabalhado para que as empresas crescessem e o desemprego diminuísse em Sintra.

Já havia quem tivesse cuidado de garantir que o turismo do futuro em Sintra não é só de chegar e abalar.

Quem se tivesse preocupado com a possibilidade de permitir que qualquer cidadão do mundo pudesse, sei lá…, dormir em Sintra.

Quem cuidasse de Sintra.
Daquela que vai de Queluz (referência ao palácio para não amesquinhar suas majestades) até ao mar.

Quem tivesse cuidado de lutar por quem realmente sente Sintra.
Os que cá moram.

E que precisam de um Centro de Saúde digno ou de um hospital.

Já houve quem se tivesse preocupado com Sintra.
Quem tivesse visto que os seus cursos de água já não uniam e que já só separavam.

Houve quem tivesse real preocupação com Sintra.

Quando lhe colocou património natural e edificado completamente abandonado ao serviço de todos e de cada um.

É verdade.

Houve quem tivesse defendido Sintra.

Ao requalificar a Casa Museu Leal da Câmara ou impedindo que a capela de Nossa Senhora das Mercês caísse.

“Em defesa de um sitio único”.

Que tratava as Jardas como um problema e encanava as Lages no fundo do quintal.

“Em defesa de um sitio único”.

Onde só se podia andar de bicicleta em 500 metros entre as Azenhas e Janas.

O problema nem é de memória.

Porque a realeza tem memória.
A aristocracia tem recordações.

Lembram-se das charretes com os seus cavalos (à atenção do PAN…) ao invés dos autocarros carregados de espanhóis, alemães e japoneses.

Lembram-se dos passeios na volta do duche sem populaça a importunar.

Lembram-se dos salões dos seus palácios fechados ao recato de suas famílias.

Os chás dançantes das grandes senhoras que generosamente cediam meia dúzia de réis à caridade cuidando assim atingir o lugarzinho no céu.

Eles lembram-se.

Das moedas com as suas caras.

E o problema é que é isso que querem e exigem ter de volta.

Uma Sintra de castas. Que comece na Portela e acabe na Várzea.

Mas as noticias não são as melhores.

Porque os mesmos que têm verdadeiramente defendido Sintra vão continuar.

Vão continuar a construir a Pousada da Juventude.
Vão continuar a trabalhar em questões de mobilidade.
Vão continuar a promover Sintra para até nós trazer todos aqueles que pela nossa terra se queiram apaixonar.

Vão continuar.

Nem sequer é promessa de politico.

Porque assumidos ou não é isso que somos todos. Uns e outros.

Sem manifestos, sem link’s pagos no facebook ou imagens de camionetas de lenha intelectualmente desonestas.

Vamos continuar.

Porque aos privilégios de meia dúzia só poderemos opor os direitos de todos.

 

Bruno Parreira, presidente da Junta de Freguesia de Rio de Mouro. Publicado no blog “A 6 de Cintra e a 20 de Lisboa”