Pe. Avelino Alves: “Na manhã de 25 de abril, chorei de alegria”

    Opinião

    “Chorei de alegria porque a guerra iria acabar e os nossos jovens não mais deixariam as suas famílias, não mais partiriam para a guerra, não mais iriam morrer nem matar.

    Chorei de alegria porque pensei que nunca mais ninguém, de nós, ficaria retido, na fronteira de Vilar Formoso, sempre que regressávamos de Valencia (Espanha) onde estudávamos uns 30 portugueses. De Vilar Formoso a Coimbra, todos chorávamos porque, uma vez um, outra vez outro, um de nós ficava retido na fronteira, sem sabermos porquê…

    O nosso superior, em Portugal, que nos esperava, em Coimbra, logo, a correr, telefonava ao Governador Civil de Viseu, Eng.º Manuel Augusto Carrilho, para resolver a questão… Chorei, de alegria, porque, a partir daquele dia, nunca mais teríamos ninguém, nas nossas missas dominicais, a espiar-nos, embora tivéssemos, quase sempre, alguém que nos avisava e prevenia.

    Chorei de alegria por estas e tantas outras razões… Chorei e das lágrimas nasceu, em mim, um sonho de um país livre.

    Passados 50 anos, onde estão os Capitães de Abril? Quem são os grandes “festivaleiros” do 25 Abril?…Uns, que ainda não tinham nascido, outros que fugiram à tropa, para não irem à guerra. Mas, a grande maioria, são gente confinada à política, que fizeram da política a sua profissão, o seu “modus Vivendi”.

    Salazar esteve, no poder, 36 anos, nós temos gente que desde o 25 Abril, há 50 anos, não fez mais nada senão política, política do partido e do interesse pessoal.

    José Saramago dizia: “Portugal não tem partidos de direita, de esquerda, de nada, tem um bando de salafrários que se reúnem para roubar juntos”.

    Quem de nós acredita que os 230 deputados e a catrefada de ministros, secretários de estado, assessores, etc., estão, ali, por amor à Pátria e aos Portugueses?

    Vejam a postura, da maioria desta gente, quando se canta o hino nacional!… a maior parte deles só mexe os lábios quando a câmera de televisão lhe passa frente ao nariz… Continuo a sonhar com um 25 Abril de verdade.

    Salazar esteve 36 anos no poder, podem-no chamar fascista, que eu também o chamei, mas ninguém tem a coragem de o chamar corrupto. Serviu Portugal nunca se serviu. Levamos 50 anos de democracia, gente que está na política há mais tempo que o Salazar. O 25 Abril foi muito bom para alguns que confinaram a sua vida no Parlamento e nos sucessivos Governos. Há gente que nunca fez nem sabe fazer mais nada na vida…

    Por isso, continuo a sonhar com o 25 Abril mais justo e verdadeiro, que não mande o pobre, que roubou para comer, para a prisão e os grandes corruptos deste país, que desviaram milhões, continuem a desfilar na passarela de grandes vidas.

    Sonho com um 25 de Abril que mande o violador para a cadeia e não o deixe, por aí, andar à solta, a prosseguir no crime. Sonho, não paro de sonhar, para que os cravos de Abril se transformem, a exemplo das flores da Rainha Santa Isabel de Portugal, em pão e paz, em justiça e liberdade, em esperança e fé num Portugal de todos.

    Sonho num Abril para todos os portugueses, sem direitas nem esquerdas, sem fascistas e nem corruptos, mas de homens e mulheres com história e com grande futuro.

    Paulo VI dizia que só haverá Liberdade e Paz quando houver Justiça.

    Abril não foi um golpe de estado, Abril foi e tem que ser o início de um caminho a percorrer na Liberdade, na Paz e na Justiça.”

    Pe. Avelino Alves