José Manuel de Castro Lopes, tem 74 anos e vive num recanto da Rua Capitão Mário Pimentel, em Sintra

“Tinha uma vida equilibrada” que acabou com o fim do casamento. “Não há culpas de ninguém”, mas muitos ressentimentos. “A minha vida deu uma volta” e sem saber como, José Manuel de Castro Lopes, de 74 anos de idade, vive na Rua Capitão Mário Pimentel. Na ‘rua’, junto à Fidelidade Seguros e do Mercado de Estefânia, em Sintra. É um sem-abrigo.

Com mais de 35 anos de trabalho na área de hotelaria e o curso Superior de Gestão de Hoteleira, tirado em Montreaux, na Suíça, trabalhou em vários estabelecimentos de referência da cidade de Lisboa e com os melhores profissionais do setor. Entre outras atividades profissionais, chegou a exercer o cargo de Encarregado de Banquetes da Palácio Real do Rei Hussein da Jordânia e sua mulher Noor Al Hussein. “Tive lá seis anos e acabei por desistir, para aceitar novos desafios. Tive um percurso profissional imenso que muito me orgulho”, disse ao SINTRA NOTÍCIAS / CORREIO DE SINTRA, este homem educado, simpático, de trato fácil, ar limpo, que sofre de solidão e da indiferença da sociedade.

“Sabe, quando cheguei à idade da reforma depois anos de trabalho num restaurante de luxo, deparei-me que os descontos e contribuições nunca foram entregues”, explica. “Tenho uma reforma mínima e se não fosse o suplemento de apoio para idosos, não sei como conseguiria sobreviver”.

“Tinha uma vida equilibrada”(…) a minha vida deu uma volta”

José tem família “mas pouco chegados para o meu lado” devido a questões de partilhas e outras coisas. “Tive que valer por mim e dou comigo à cerca de 18 meses a dormir na rua, quase seis meses no aeroporto de Lisboa”. “As pessoas olhavam mais não veem e às vezes bastava um bom dia, para nos encher o coração e a alma”.

Agora, José ‘vive’ há cerca de 10 meses, num canto da Rua Capitão Mário Pimentel, em Sintra. “As funcionárias da Companhia de Seguros Fidelidade, respeitam-me e têm sido minhas parceiras a cem por cento, permitindo a minha permanência, neste local. Estou muito grato”.

Por indicação de algumas pessoas procurou o apoio da Santa Casa da Misericórdia de Sintra “mas acabei por desistir, apesar de não ser pessoa de desistir”.

“Gostava somente de ter uma casita, nem que fosse um T0 ou
uma garagem com água. Para mim, chegava!”

José Manuel de Castro Lopes gostava “somente” de ter “uma casita, nem que fosse um T0 ou uma garagem com água. Para mim chegava. Era o ponto de partida para poder contar mais comigo e com as minhas coisas. Era a minha vida. Não recorro à caridade da moedinha. Não estendo a mão. Não!”.

O José tem passe social que permite fazer pequenas viagens. Ir ao cemitério para visitar os pais e a irmã. Em particular a mãe que acompanhou até ao seu fim. “A minha mãe”. Emociona-se. São parte importante da sua companhia. “Nestas malas tenho o fundamental para ir vivendo, só que não sei até quando”.

Pensativo, “eu ando a tentar pela minha vida, mas não sei se vou conseguir”.

Sintra Notícias com Correio de Sintra