José do Nascimento | “Evolução será progresso?”

A primeira crónica que publiquei neste espaço, tentou narrar o que aconteceu no centro histórico de Sintra (Vila Velha) desde o final dos anos 50 do século XX até ao aparecimento da pandemia.

O COVID veio provar que a evolução da Vila Velha não veio acompanhada de um progresso sustentado, a quase total ausência de moradores, mercê das modificações e objectivos comerciais da zona, fazem hoje uma Vila quase fantasma. Confrangedor!

A evolução dos aglomerados populacionais está ligada ao que muitos chamam de progresso civilizacional, mas por vezes a civilização tem custos que nos fazem pensar: “Será que valeu a pena!

O bairro de São Pedro de Sintra, não Penaferrim porque isso é território mais vasto, terá tido a sua própria evolução, mas não parece ter perdido a sua identidade. Assistiu-se ao definhar de uma feira bi-mensal, mas no seu todo, parece ser o local de Sintra, a zona que mais conservou a sua essência.

A Estefânia, também não sofreu alterações significativas. Destaca-se a criação de uma zona pedonal que, como seria previsível, não atingiu os objectivos que o poder político de então tinha traçado.

Desde os inícios dos anos 70 do século passado que acompanho a evolução do bairro da Portela, área urbana que para alguns a evolução significou progresso, no entanto estou em crer que esse pensamento não encontra eco na maioria dos residentes. O bairro nasceu com uma vocação residencial com as acessibilidades adequadas ao fim a que se destinava, mas a determinada altura, começaram as invasões.

A necessidade de ampliação dos serviços públicos viu na Portela de Sintra uma saída fácil embora, na maioria dos casos, socorrendo-se a adaptações em edifícios concebidos para outras funções.

Vieram alguns departamentos da Câmara, repartição de finanças, SMAS… até o tribunal habitou o bairro durante alguns anos. O comércio de bairro desapareceu e importaram-se os supermercados.

O que foi ficando inalterado foram as infraestruturas viárias que passaram a ter que suportar um enorme aumento de tráfego e procura de locais de estacionamento, infraestruturas adequadas para aquilo que o bairro nasceu, mas manifestamente insuficientes para aquilo em que o bairro se transformou. Aqui a evolução não significou progresso.

Outra das importações foi o estacionamento tarifado a cargo da EMES, que estende a sua actividade em três bairros da vila de Sintra, a Vila Velha, Estefânia e Portela, além de alguns parques ao longo da via férrea. Estranhamente o estacionamento tarifado não se estendeu às grandes zonas urbanas do município. Sabe-se que o estacionamento tarifado, mesmo quando justificado, o que nem sempre acontece, é bastante impopular, mas também se sabe que é nas grandes zonas urbanas do município sintrense que se ganham eleições.

Duas coisas a Portela não conseguiu importar, uma delas é o centro de saúde, tendo-se preferido uma pouco adequada localização na Estefânia. A outra coisa que o bairro mais populoso da vila de Sintra não se viu bafejado, são as iluminações de Natal que estão a dar alegria na quase deserta Vila Velha, devido à pandemia, e na Estefânia há muito diariamente desertificada mal o Sol vai iluminar outros mundos, a Estefânia. Critérios!

José do Nascimento