Professor, filósofo, escritor, crítico literário, ensaísta, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, Eduardo Lourenço foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa, sempre solicitado, mas que considerava não justificado o interesse das pessoas por ele: “Porque estou saindo. Eu nunca ocupei palco”, explicou, numa entrevista ao jornal Público, em 2017.

Hoje saiu de cena, mas deixa a marca da “grande originalidade” do seu pensamento – de acordo com a página a si dedicada, do Centro Nacional de Cultura –, e a imagem do ensaísta que permitia “a única reflexão inteligente sobre a política nacional”, como o definiu o poeta Herberto Helder, numa carta de 1978.

Outras definições o caracterizam, como a do ensaísta Eduardo Prado Coelho, que o considerava alguém para quem “a aventura do conhecimento e a aventura da vida se confundem permanentemente”, ou a de Fernando Namora, que, em 1986, escreveu que Eduardo Lourenço era “um dos espíritos mais sagazes, de uma fulgurância estonteadora, que o ensaísmo português alguma vez produziu”.

Apaixonado pela literatura, referia-se aos livros como “filhos” e dizia que “estar-se sem livros é já ter morrido”.

Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta, mas só foi registado no dia 29 desse mês. Esteve “seis dias sem tempo” e assim ficou sempre, “fora do tempo”, afirmou numa entrevista à revista Prelo.

O mais velho de sete irmãos, e filho de um militar do exército, frequentou a escola primária da aldeia onde nasceu e matriculou-se, posteriormente, no Colégio Militar, em Lisboa, onde concluiu o curso em 1940.

Inscreveu-se na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, de que desistiu, para prestar provas, mais tarde, em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da mesma instituição.

Era um “dos melhores em Filosofia, não porque repetisse as aulas como um papagaio, mas por ter revelado um arguto espírito crítico e uma ideia já autónoma”, segundo a descrição, à revista Prelo, que dele fez o escritor e pedagogo Mário Braga, ex-editor da Vértice.

Eduardo Lourenço concluiu a licenciatura em 1946, com uma tese sobre “O Sentido da dialética no idealismo absoluto”.

Entre condecorações e distinções, Eduardo Lourenço recebeu as ordens de Grande Oficial de Santiago e Espada (1981), a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1992), a Grã-Cruz da Ordem de Santiago e Espada (2003) e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade (2014).

França distinguiu-o com a Ordem Nacional de Mérito (1996), a Ordem das Artes e das Letras (2000) e a Legião de Honra (2002), e em 2008 recebeu a medalha de Mérito Cultural do Governo Português e a Ordem de Mérito Civil de Espanha.

Doutorado Honoris Causa pelas Universidades do Rio de Janeiro, de Bolonha, de Coimbra e pela Nova de Lisboa, tomou posse, a 07 de abril de 2016, como Conselheiro de Estado, designado pelo atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Nesse mesmo ano, venceu o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, ex-aequo com o cartoonista francês Jean Plantureux, conhecido como Plantu.

Em 2018, foi protagonista e narrador da sua própria história, num filme de Miguel Gonçalves Mendes, que teve antestreia a 23 de maio, dia em que Eduardo Lourenço completou 95 anos.

Intitulado “O Labirinto da Saudade”, o filme adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e traça uma viagem através da cabeça do pensador português, constituindo-se como uma “homenagem em vida” do realizador ao ensaísta.

Lusa