José do Nascimento | Curtas Crónicas Avulso (Parte 3)

Crónica de um mau caminho

É costume dizer-se de quem envereda por comportamentos não recomendáveis, que entrou no mau caminho. Não é esse o objectivo desta crónica, mas sim fazer a análise de um mau caminho no seu sentido literal.

Nos anos 90 do século passado, nasceu uma nova entrada na Portela de Sintra, tendo-se construído um túnel que passa por baixo da via férrea e com ligação à também nova Avenida General Mário Firmino Miguel, a esse troço foi dado o nome de rua Acácio Barreiros. Quem subia essa artéria pelo lado esquerdo, ao chegar à avenida, deparava-se com o passeio pedonal a acabar abruptamente, deixando o transeunte com três hipóteses de escolha, voltar para trás, tentar atravessar a rua, o que na ausência de passagem de peões, constituía uma aventura de desfecho imprevisível. Como terceira hipótese surgia o seguir pela relva, o que no inverno e com esta molhada se tornava numa caminhada, no mínimo, desconfortável.

A construção do novo parque de estacionamento em frente ao interface veio trazer a necessidade de construir um novo passeio pedonal ao longo da avenida, até às proximidades da rotunda Dr. Eduardo Lacerda Tavares, e esse troço acabou ser feito, primeiro só parcialmente, até que a União das Juntas de Freguesia de Sintra, entidade que se assumiu autora da obra, apareceu a anunciar a construção total do passeio pedonal ao longo de toda a avenida.

Normalmente as minhas caminhadas diárias não me empurram para aqueles lados, mas a notícia emitida pela Junta de Freguesia nas redes sociais, aguçaram-me a curiosidade, mas só agora, já este Outubro, resolvi encaminhar os meus passos para aquela via pedonal e fui encontrar um caminho feito de blocos rectangulares, realmente uma solução pouco dispendiosa e de rápida execução, só que os intervalos entre os blocos, além de irregulares, bastas vezes demasiado separados, o que poderá vir a  criar acidentes desagradáveis, mas que fora esse perigo, tornam a caminhada desconfortável e a lembrar o andar sobre as solipas de caminho de ferro, nunca estão à medida do nosso passo.

E assim nasceu um mau caminho.

Crónica de Outono

Nos idos anos 50, 60 e 70, século XX, talvez mais uma década, ou quase, nos tempos da minha infância, adolescência e juventude, lembro-me de que o ano tinha quatro estações bem definidas, o Outono era uma delas.

Por calendário é no Outono que hoje estamos, mas não só esta estação que já não é o que era, tal como as outras três, já não são o que foram.

Na minha juventude, o início de Outono marcava o arrumar das t-shirts e pôr o impermeável e o chapéu de chuva de prevenção e assim ficavam para uso frequente, pelo menos até Março. Hoje o melhor é deixar as peças mencionadas em estado de prevenção durante todo o ano, isto devido às frequentes incertezas climáticas que alguns dos “donos do mundo” teimam em negar as evidências. Quando se elegem incapazes, que até as estações do ano nos roubam, os riscos são gigantescos.

Felizmente ainda existem alguns aspectos característicos do Outono, de que podem ser exemplo as cores com que as vinhas se vestem após as vindimas e ainda subsistem razões para o ditado: “Pelo S. Martinho vai à adega e prova o vinho”.

Geralmente é muito cedo para provar o vinho, mas na adega haverá decerto a popular água-pé e pode haver também a jeropiga, esta última bebida com todo o sentido o provar-se nesta época dado ser feita com mosto de vinho, que ao fim de dois dia lhe juntam açúcar e aguardente, o que provoca a paragem da fermentação. Quando chega o S. Martinho a bebida já está suficientemente maturada.

Infelizmente este ano o S. Martinho não poderá ser igual aos anteriores, a pandemia veio baralhar as idas à adega e os vulgares almoços ou jantares a celebrar o santo. Esperemos que o mais brevemente possível o S. Martinho possa voltar à normalidade e, principalmente, que não nos roubem o tradicional Verão do dito santo.

Por último aproveito este espaço para denunciar um roubo de que o Outono foi vítima, já há bastantes anos. Refiro-me ao dia da mãe que acabou chutado para um incaracterístico primeiro domingo de Maio.

Para a minha opinião não pesam motivos religiosos dos quais ando arredado, mas pesa o que se expressa no dia 8 de Dezembro que celebra uma mãe carregada de simbolismo a Imaculada Conceição. O dia do pai, pelo seu simbolismo é celebrado no dia de S. José, porquê o dia da mãe deixou de ter esse mesmo sentido? Será que se mudou porque o dia da mãe estava demasiado próximo do Natal?

O que parece é que se resolveu privilegiar outros interesses e os simbolismos que se… prejudiquem!

José do Nascimento