Fernando Morais Gomes | Estado de Justiça

(...) "O ser humano corre o risco de ser reduzido à mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo" (...)

Passam hoje [10 de dezembro] 70 anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos do Homem, e não é demais enfatizar a necessidade de aprofundar uma cultura dos direitos humanos junto daqueles “nós-todos” formado por indivíduos, famílias e grupos intermédios que se unem em comunidade social, salientando que falar da dignidade transcendente do homem significa apelar para a sua natureza, a sua capacidade inata de distinguir o bem do mal e olhar para o homem, não como um absoluto, mas como um ser relacional.

Numa Europa cada vez mais privada de vínculos, de idosos abandonados à sua sorte, jovens privados de referências e oportunidades para o futuro e de imigrantes que na Europa procuraram um futuro melhor, numa Europa avó que já não é fecunda nem vivaz, os grandes ideais libertários que inspiraram a Europa pareçam ter perdido força de atracção, em favor do tecnicismo burocrático das suas instituições, a que se juntam estilos de vida egoístas e caracterizados por uma opulência insustentável e indiferente ao mundo circundante.

O ser humano corre o risco de ser reduzido à mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo que quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartado sem delongas, como sucede com os doentes terminais ou os idosos abandonados e sem cuidados.

Direitos sim, mas não apenas semânticos e retóricos, atentas as geografias, os credos e os caldos de cultura. Direitos que nos conduzam dum formal Estado de Direito a um substancial Estado de Justiça.

Esse o combate ainda por fazer.

Fernando Morais Gomes, Fundador da Alagamares e do Núcleo do Sporting de Sintra