Este fim de semana não deixe de visitar uma das mais tradicionais e típicas feiras saloias do concelho de Sintra, a emblemática Feira das Mercês, onde não falta a música, exposições e festival de artes performativas.

A Câmara de Sintra organiza a Feira das Mercês – Feira Saloia de Sintra, com animação etnográfica saloia, espaços de restauração, bancas de artesanato, área infantil e espetáculos de palco, dias 14, 15, 16, 21, os-vendedores-tipicos22 e 23 de outubro. Esta iniciativa, com entrada livre, é ainda organizada pela Câmara dos Ofícios, com o apoio da Junta de Freguesia de Algueirão – Mem Martins e Junta de Freguesia de Rio de Mouro.

Com início provável no último quartel do séc. XVIII, a Feira das Mercês tornou-se a bolsa agrícola da região saloia, pois era o local onde se fixavam os preços dos cereais, dos legumes e de outros bens de primeira necessidade.

A Feira ou Festa das Mercês como também era conhecida, foi sempre muito atrativa pelo quadro folclórico que apresentava, uma vez que o local encantava quem o visitava, quer pela diversidade de produtos, quer também pela algazarra das gentes e dos pregões, das figuras e do garrido dos trajes, onde era possível observar-se as saloias vestidas com roupas coloridas e até arranjar um namorico, junto ao muro do derrête.

Histórica da Feira das Mercês

Mercês Outubro 1932- atr. Etelvina e marido António das Luvas; Bemto Rainha; Augusto Da Conceição Silva; António Páscoa Brancanes; Edundo Silva ; ao meio Manuela Conceição Silva Bandarra; Laurinda Da Conceição Teixeira e António filho da Etelvina; á frent
Mercês Outubro 1932- atr. Etelvina e marido António das Luvas; Bento Rainha; Augusto Da Conceição Silva; António Páscoa Brancanes; Edmundo Silva ; ao meio Manuela Conceição Silva Bandarra; Laurinda Da Conceição Teixeira e António filho da Etelvina; á frente

Segundo a tradição local, a Feira das Mercês é bastante antiga e muito anterior ao século XVIII. Porém, as primeiras referências documentais à Feira e Romagem da Senhora das Mercês reportam-se apenas à segunda metade do século XVIII. A primeira referência colhemo-la nas «Memórias Paroquiais» de 1758 (referentes a Belas), onde se cita a feira livre de Meleças, realizadas no 3.º e 4.º Domingo de Outubro, sem mencionar, contudo, o orago (o da N.S. das Mercês ou outro).

Nas mesmas «Memórias Paroquiais», mas referentes a São Martinho, o Prior Sebastiam Nunes Borges refere, integrada na “Vintena” do Algueirão, o lugar das Mercês. Um documento régio de 1771 (de 7 de Junho) esclarece que a feira se realizava, então, em: «…um lugar despovoado, e sito entre Meleças e a Ermida das Mercês…».

A ermida era bastante exígua e tinha apenas um capelão, o que obrigava a muitos suplicantes ficarem sem missa, pelo que, entre outras razões mais prosaicas, o Rei, D. José I, manda transferir esta Feira e Romagem da Senhora das Mercês para a Vila de Oeiras, então senhorio do Marquês de Pombal (que era também o proprietário dos terrenos e ermida da feira de Meleças). A situação alterou-se em 1780 (17 de Outubro) quando D. Maria I autoriza aos: «… moradores […] do Sítio da Ermida de N. S.ª das Mercês, […] a continuar a sua Feira no 3.º e 4.º Domingos de Outubro», situação que ainda se mantém na actualidade.

registo-da-festa-das-merces-anos-40-do-seculo-xxQuanto ao orago da Senhora das Mercês sabemos que é bastante antigo em Portugal introduzido nos séculos XIV/XV pelos frades mercedários, de origem castelhana, na região de Alenquer (localidade de Merceana).

No século XVIII, a forte devoção de Sebastião José de Carvalho e Melo pela Senhora das Mercês, devoção já com tradição familiar, como se pode aferir pelo seu baptismo na Igreja Paroquial de N. S.ª das Mercês, em Lisboa, está na base da forte implantação deste orago um pouco por toda a região e, sobretudo, nesta tradicional e secular feira.

A Feira das Mercês como tudo na vida social-económica das comunidades locais, teve vários aspectos e contornos, ditados, quer pela moda, quer pelo concurso de gente importante, ou entidades, envolvidas diretamente na sua organização, ao longo dos tempos. Como é o caso de D. Leonor Ernestina Eva Wolfanga Josefa, condessa de Daun, segunda esposa do 1º Marques de Pombal, que era uma benfeitora importante do Convento de São Pedro de Alcântara, dos Frades Franciscanos Arrábidos, razão pela qual os frades organizavam um

Lista de pagamento de terrado na feira das mercês
Lista de pagamento de terrado na feira das mercês

Círio que conduzida a milagrosa imagem da Senhora das Mercês, da Freguesia de S. Pedro em Alcântara, ao sítio de Meleças, seguidos depois de um bodo aos pobres da região; desses círios devotos, oitocentistas, existem várias edições dos Cânticos de Louvor, à Senhora.

Do ponto de vista económico a Feira das Mercês, nos seus tempos áureos, estabelecia a tabela de preços para vários produtos na região particular mente os frutícolas; era lugar de contratação de mão-de-obra, particularmente feminina, para os trabalhos agrícolas na região e ali se adquiria as madeiras em bruto para reparações de alfaias agrícolas com vista a novas campanhas de sementeira.

Na atualidade, a Feira das Mercês, renasce com um padrão cultural e tradicional interessante, depois de uma lenta agonia de mais de uma década de incertezas e descaracterização. A recuperação acontece, por intervenção direta da C.M. de Sintra, ao nível da Animação Cultural; animação que, no terreno, está a cargo da Câmara de Ofícios, apostada em reabilitar a figura tradicional do Saloio, mas, também do espaço e, naturalmente, da feira secular.

Rui Oliveira

Bibliografia:

AZEVEDO, José Alfredo da Costa; 1982, «Velharias de Sintra IV, Memórias Paroquiais»; edição da C.M. de Sintra, pp. 149-50 e 159-60.

PORTUGAL, Fernando & MATOS, Alfredo; 1974, «Lisboa em 1758, Memórias Paroquiais»; edição da C.M. de Lisboa, pp. 195/202.