José Teixeira, Pedro Ventura e Carlos Vieira visitaram a exposição

Está patente no novo espaço dos SMAS na Ribeira de Sintra, as exposições “Monstros Marinhos” e “Mar de Plástico” incluem trabalhos realizados pelo artista Ricardo Nicolau de Almeida com plásticos recolhidos, na passada semana, nas praias de Sintra.

Com entrada gratuita, as exposições foram inauguradas este sábado e constituem a primeira grande iniciativa após as instalações terem passado para a gestão dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento de Sintra (SMAS de Sintra). O espaço vai acolher, em 2022, o Museu da Água e Resíduos (MAR), que se assumirá como um polo de referência nas áreas da educação e sensibilização ambiental e da divulgação científico-tecnológica, no âmbito do ciclo urbano da água e dos resíduos.

Promovidas pelo CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto e pelos SMAS de Sintra, com o apoio da Câmara de Sintra, as exposições “Monstros Marinhos” e “Mar de Plástico” pretendem alertar para o problema do lixo marinho e a necessidade de adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis por parte da população.

“Estas duas exposições são uma combinação entre diferentes abordagens à volta do mesmo tema: o problema do plástico nos oceanos”, explica José Teixeira, comissário das exposições.

Por um lado, é apresentada uma visão artística, por parte do Ricardo Nicolau de Almeida, “com utilização de materiais que apanha nas praias, tal como os encontra – não os transforma, não os pinta, não os parte – e retrata monstros marinhos, ‘novas espécies´ que estão a invadir os oceanos e a criar grandes problemas ambientais e à nossa própria saúde”. Para além destas vorazes criaturas imaginárias, outros módulos apresentam lixo recolhido nas praias de Sintra, “com uma imensidão de tipos de resíduos”, em que foi privilegiado “o uso da cor, da repetição das diferentes formas, para mostrar esta diversidade, quase infinita, do lixo”.

O artista construiu ainda um conjunto de figuras e máscaras humanas, que compõem ‘a sala dos idiotas’, “quase um auto-retrato da nossa  espécie que, como diziam os antigos, ‘suja o rio quando bebe a água’”, acentua o também coordenador do Gabinete de Comunicação do CIIMAR e da campanha Ocean Action, um projeto que pretende contribuir para a literacia do oceano e sensibilizar para o impacto da poluição no mar.

“Mar de Plástico”, por outro lado, é constituída por painéis infográficos, áreas sensoriais, vídeos e objetos artísticos. Os visitantes são convidados a entrar na exposição através de um corredor de plástico, que permite percecionarem o efeito repressivo da acumulação de plástico no meio marinho. 

Segundo pesquisas recentes, chegam ao Oceano mais de 8 milhões de toneladas de plástico por ano e “uma parte substancial são ingeridos pelos animais marinhos, que adoecem, que morrem, e uma parte ainda maior vai-se partindo e pode entrar mesmo na cadeia alimentar humana”.  

Esta mostra, já exposta em mais de 20 localidades de Portugal Continental e Açores, recorre ainda a objetos de uso quotidiano, que foram recolhidos em ações de limpeza de praias, apresentados em forma de supermercado de plástico, onde a enorme diversidade de materiais estão etiquetados, não com as normais datas de validade, mas com o tempo de vida no mar, que pode atingir, em alguns casos, largas centenas ou milhares de anos.

“A mensagem que queremos passar às novas gerações, através de tudo aquilo que mostramos, é que a sanita não é um caixote de lixo, porque algum dele pode ir parar ao mar, mas também que o chão também não é um caixote do lixo, para receber beatas, palhinhas ou embalagens de rebuçados, e a solução passa por mudanças de comportamento muito simples: não deitar lixo para a sanita ou para o chão. Mas, obviamente, passa ainda por reduzir a produção de resíduos, não usar sacos plásticos, usar um cantil em vez de uma garrafa de plástico, e, no final, incrementar a reciclagem”, salientou ainda José Teixeira.

Ricardo Nicolau de Almeida, por sua vez, realçou “a relação entre a ciência e a arte”, expressa nestas exposições, onde a mensagem científica é passada de uma maneira criativa. O artista revelou, ainda, que, para concretizar alguns dos módulos dos “Monstros Marinhos”, recolheu resíduos nas praias do Parque Natural de Sintra-Cascais, desde o Guincho até à Ericeira, com o maior volume recolhido na Praia da Ursa (Cabo da Roca). Nesta residência artística, Ricardo foi acompanhado por outro artista e ativista local, Xico Gaivota.

(da esquerda para a direita): Pedro Ventura (membro do Conselho de Administração dos SMAS de Sintra); Carlos Vieira (Diretor Delegado dos SMAS de Sintra), Helena Cardoso (Chefe da Divisão Oficina Ambiental dos SMAS de Sintra); José Teixeira (comissário das exposições); Ricardo Nicolau de Almeida (artista)

“Monstros Marinhos” e “Mar de Plástico” constituem a primeira grande iniciativa do novo espaço dos SMAS de Sintra, que irá acolher, no próximo ano, o Museu da Água e Resíduos (MAR). Para o Diretor Delegado dos SMAS, Carlos Vieira, “o MAR será um espaço centrado na sensibilização para estas temáticas, relacionadas com a água, o saneamento e os resíduos, e estamos certos que vamos concretizar um equipamento muito interessante para a comunidade de Sintra, com muita ligação à população escolar”.

Carlos Vieira enunciou a aposta de tornar o MAR como “uma referência, nacional e internacional, nestas áreas”. Este responsável salientou ainda a forte aposta dos SMAS de Sintra na redução das perdas de água, de 30,9% em 2014 para 18,4% em 2020, como foi destacado no ENEG 2021 (Encontro Nacional de Entidades Gestoras de Água e Saneamento) que decorreu, recentemente, em Vilamoura.

“Este novo espaço é muito importante para os SMAS de Sintra. É um espaço de divulgação da própria evolução dos nossos serviços, uma das mais antigas entidades distribuidoras de água do país”, salientou o membro do Conselho de Administração, Pedro Ventura, que destacou ainda a dimensão do sistema de distribuição de água a cargo dos SMAS de Sintra, “que é a distância entre Lisboa e Paris, são 1800 quilómetros de rede de água, e, para chegar a este grau de eficiência, foi necessário muito investimento e dedicação de inúmeros trabalhadores”.

Segundo Pedro Ventura, o novo espaço SMAS na Ribeira de Sintra vai aliar “a ciência, a arte e o serviço público”. As preocupações ambientais vão continuar na agenda do Município de Sintra, revelou o também vereador com o pelouro da Sustentabilidade Ambiental, e nos planos autárquicos está mesmo a organização de “um grande congresso sobre Ambiente para refletir sobre as matérias e os compromissos dos SMAS e da Câmara em relação às questões ambientais”.

As exposições “Monstros Marinhos” e “Mar de Plástico” estão patentes até 27 de março de 2022, de terça a domingo (exceto feriados), das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00, com entrada gratuita para os munícipes de Sintra.