Morreu Gonçalo Ribeiro Teles

O arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, figura pioneira na arquitetura paisagista em Portugal, morreu esta quarta-feira , em Lisboa, aos 98 anos.

Antigo líder do Partido Popular Monárquico e dirigente da Aliança Democrática, o arquiteto, cuja carreira também se destacou na cidadania e na ecologia, faleceu em casa, rodeado da família.

Nascido em Lisboa, a 25 de maio de 1922, Gonçalo Pereira Ribeiro Telles licenciou-se em Engenharia Agrónoma e formou-se em Arquitetura Paisagista, no Instituto Superior de Agronomia, na capital portuguesa, onde iniciou a vida profissional como assistente e discípulo de Francisco Caldeira Cabral, pioneiro da disciplina em Portugal, no século XX.

Foi dos primeiros, senão o primeiro político a chamar a atenção para a importância do ordenamento do território e da ecologia, muitos anos antes do verde ser componente obrigatória dos programas partidários.

O seu legado é bem visível em Lisboa. Com António Viana Barreto, assinou o projeto do jardim da Fundação Gulbenkian (prémio Valmor de 1975). É dele o projeto visionário do célebre corredor verde de Monsanto, uma pista para peões e ciclistas que liga os Restauradores ao parque florestal de Monsanto.

Gonçalo Ribeiro Telles foi também autor dos projetos do Vale de Alcântara, da Radial de Benfica, do Vale de Chelas e do Parque Periférico, entre outros.

Ativista contra o regime de Salazar desde a juventude, fundou e presidiu ao PPM logo após o 25 de Abril. Foi subsecretário de Estado do Ambiente nos I, II e III Governos Provisórios e Secretário de Estado da mesma pasta no I Governo Constitucional. Com Sá Carneiro e Amaro da Costa assinou a constituição da Aliança Democrática. Com Francisco Pinto Balsemão, entre 1981 e 1983, foi ministro de Estado e da Qualidade de Vida.

Em 2013, foi distinguido com o “Nobel” da Arquitetura Paisagista, o Prémio Sir Geoffrey Jellicoe, atribuído em Auckland, na Nova Zelândia, pela federação internacional do setor.

No mesmo ano, em entrevista à agência Lusa, o arquiteto defendeu “uma paisagem coerente, cultural e social no território” do país e deixou um apelo tanto aos arquitetos paisagistas, que estão a iniciar a profissão, como aos decisores políticos, no sentido de permitirem a aplicação deste modelo na paisagem do país.

Governo decreta dia de luto nacional

O Governo decidiu hoje decretar um dia de luto nacional, esta quinta-feira, 12 de novembro, pela morte de Gonçalo Ribeiro Telles, disse à agência Lusa fonte oficial do Executivo.

Numa nota de pesar enviada às redações, o ministro do Ambiente da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, “(…) lamenta profundamente o falecimento do arquiteto Gonçalo Ribeiro Telles e apresenta aos seus familiares e amigos as suas sentidas condolências”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte do arquiteto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles, lembrando-o como um “lutador pelas liberdades e a democracia” e uma “consciência crítica” no plano ambiental.

O Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian expressou “profundo pesar” pela morte do arquiteto, “figura ímpar” ligada àquela instituição “desde o primeiro momento”.

Num comunicado divulgado pela fundação, a sua presidente, Isabel Mota, recorda “o amigo e visionário que inspirou gerações de arquitetos paisagistas, responsável, em conjunto com António Viana Barreto, pelo desenho do jardim da Fundação Gulbenkian [em Lisboa] ,um espaço que se tornou emblemático para todos os que diariamente aqui esquecem o bulício da cidade”.

Lusa