Dr. Eurico Costa, Otorrinolaringologista do Hospital CUF Sintra

Estima-se que afete até 10% da população mundial e é o principal motivo de cerca de 20% das consultas de Otorrinolaringologia e Neurologia. Falamos de vertigem, um sintoma comum associado a doenças dos ouvidos, mas que também pode ser sinal de doenças neurológicas, cardiovasculares, infecciosas, autoimunes, ou, até, traumáticas.

Foi a pensar nisto que o Hospital CUF Sintra disponibiliza um exame inovador que permite diagnosticar, de forma simples e rápida, a causa das vertigens e evitar consequências graves. Em conversa com o Correio de Sintra e ao Sintra Notícias, o Otorrinolaringologista, Eurico Costa, do Hospital CUF Sintra, explica tudo sobre a vertigem e sobre este novo exame.

O Video Head Impulse Test (vHIT) é um dos mais avançados exames para diagnóstico das causas das vertigens, atualmente, e está disponível no Hospital CUF Sintra. No que consiste este exame?
É um teste que avalia o reflexo vestíbulo-ocular, um reflexo automático e muito rápido, cuja principal função é manter o olhar estável e a visão focada, durante os movimentos da cabeça. Durante este teste, o doente usa uns óculos fixos à cabeça por um elástico, e é-lhe pedido que fixe um alvo colocado na parede, enquanto se executa uma série de movimentos rápidos e de baixa amplitude da cabeça do doente. Estes óculos, equipados com câmaras de alta velocidade e acelerómetros, simultaneamente registam e comparam os movimentos dos olhos e da cabeça. É um exame simples, rápido e muito bem tolerado pelo doente, com a vantagem de ser pouco influenciado por fármacos ou alterações anatómicas do ouvido.

Em que situações é mais frequentemente utilizado?
Este exame pode ser solicitado pelo seu médico sempre que há queixas de tonturas, vertigem ou alterações da postura, marcha ou do equilíbrio. É um exame fundamental para diagnosticar e localizar a origem destes sintomas, mas também é útil para planear e monitorizar o tratamento. Por ser um exame rápido, pode, também, ser usado em situações de urgência, possibilitando, por exemplo, o diagnóstico de acidentes vasculares cerebrais (AVC) com elevada sensibilidade.

A vertigem pode, então, ser causada por diferentes patologias, entre as quais o acidente vascular cerebral?
As causas de vertigem podem ser múltiplas e não é incomum haver mais do que uma patologia associada. No fundo, dividem-se em três grandes grupos de patologias: periférias, centrais e funcionais.

As causas periféricas mais frequentes são a vertigem postural paroxística benigna, conhecida como a “doença dos cristais”, e a nevrite vestibular, uma inflamação do nervo vestibular, geralmente causada por infeção viral.

Entre as patologias centrais, a enxaqueca vestibular é a mais frequente. Mais raramente, mas com sequelas potencialmente mais graves, temos então o AVC, doenças desmielinizantes, como a esclerose múltipla, ou doenças neurodegenerativas, como a doença de Parkinson.

Depois, há as causas funcionais, como tontura postural-perceptual persistente, que gera dificuldade no controlo postural e desorientação espacial, muitas vezes associada a ansiedade e a vertigem desencadeada por certos estímulos visuais. É cada vez mais frequente e requer uma abordagem multidisciplinar.

Porque considera necessária esse tipo de abordagem?
Existem mais de 300 causas possíveis para a vertigem, pelo que é necessário o olhar de profissionais dedicados ao diagnóstico e tratamento de todas as patologias que provocam este problema. No Hospital CUF Sintra, temos uma equipa multidisciplinar empenhada no tratamento da vertigem, que conta com profissionais das áreas de Otorrinolaringologia, Audiologia, Fisioterapia, Psicologia, Psiquiatria, Neurologia e Neurocirurgia.

E é possível reverter completamente este sintoma?
Sim, por vezes, muito rapidamente, como em casos de vertigem postural paroxística benigna. Com manobras simples, que envolvem apenas posicionamento e movimentações do doente numa marquesa, conseguimos reposicionar as otocónias (“cristais”) e pôr termo a sintomas extremamente incapacitantes. Mesmo quando não é possível a resolução completa ou definitiva, em doenças sem cura, como a doença de Menière, é possível minimizar a gravidade dos sintomas, melhorando significativamente a qualidade de vida dos doentes.


SOBRE A VERTIGEM:

Um sintoma que provoca sensações desconfortáveis:

“Os doentes com tonturas ou vertigem sentem que o mundo gira à sua volta, ou que fica desfocado enquanto caminham. Pode estar associada a desequilíbrio e instabilidade da marcha e, em certos casos, chega mesmo a impedir o doente de se levantar e a causar quedas com sequelas potencialmente graves. Frequentemente é associada a queixas, como náuseas, vómitos e suores.”

Esteja atento aos sinais de alerta:

“A presença de sintomas como alterações da força muscular, da sensibilidade, da fala, da deglutição ou diplopia (visão dupla) devem ser encarados como sinais de alarme e motivar uma ida às urgências, pois podem estar associados a causas neurológicas, nomeadamente AVC.”

A vertigem deve ser sempre investigada

O correto e atempado diagnóstico das causas da vertigem permite obter melhores resultados no tratamento, e impede que doenças benignas e de tratamento simples evoluam para doenças crónicas ou potencialmente fatais.

O Hospital CUF Sintra conta com algumas das mais avançadas tecnologias de exame, além do vHIT, como a audiometria, videonistagmografia e técnicas de imagem, em particular, a tomografia computorizada (TAC) e a ressonância magnética.