Rituais

O ser humano por natureza tem necessidade de criar o novo, explicar o inexplicável, questionar o óbvio e quando possuído pelo medo construir um andaime de segurança nem que, na verdade, seja apenas uma ilusão. Estamos rodeados por andaimes que em forma de ritos e rituais nos seguram e não permitem que percamos o sentido.

A palavra rito tem origem no latim e é um termo que se refere aos costumes invariáveis, já estabelecidos por meio de regras ou normas de uma cerimônia de determinada cultura ou religião.

Um rito é baseado nas crenças das pessoas que o realizam e é uma forma de simbolizar e transmitir as ideias e os conceitos de algum tipo de mito.

Enquanto o rito é o conceito, o ritual é a prática. Dessa forma, a celebração do rito, isto é, a concretização dos costumes, das regras estabelecidas e dos ensinamentos tradicionais é chamada de ritual. Formado por um conjunto de ações, símbolos, palavras e/ou gestos, o ritual – palavra que também tem origem no latim – é feito com o objetivo de celebrar uma tradição e alcançar um determinado resultado. Por exemplo, a cerimônia do casamento é um ritual elaborado para aplicar o rito de união entre duas pessoas e, desta forma, alterar o seu “estatuto” de pessoa solteira para casada.

Os ritos e os rituais ajudam a criar os contornos na nossa vida. Simples práticas como os encontros familiares ao Domingo, as férias de verão, os bolos com velas no dia de aniversário, os presentes no Natal, entre outros comportamentos, pela sua previsibilidade trazem uma subconsciente tranquilidade neste mar inquieto da rotina diária. Numa perspetiva superior, os rituais religiosos podem servir como analgésicos à dor da alma quando os da farmácia não fazem efeito. As repetidas palavras sempre nas mesmas alturas, como “Feliz Ano Novo”, “Parabéns”, “Boa Páscoa” dão esperança para que o desejado aconteça.

Voltando ao casamento, as palavras que compõem a promessa matrimonial mudam a realidade ou fazem-nos acreditar nessa mudança.

“Eu, recebo-te por meu (minha) esposo(a) e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe”

Estas famosas palavras são por muitos tratadas como uma chave para a eterna felicidade ou uma garantia para tal, num mundo onde nada está garantido.

Tal como o par perfeito são o cérebro e o coração, os rituais criados na base do instinto ou necessidade são andaimes que equilibram o que é fisicamente inevitável.

Anna Kosmider Leal

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