Nuno Azinheira | Amada Rádio

Parece que foi ontem. Foi a 2 de Maio de 1989. Ainda não tinha 15 anos. A voz ainda não tinha ‘mudado’. E lá estava eu para prestar provas. A entrevista foi rápida. Queriam saber se eu gostava de Rádio. Adorava!

Sabia tudo de cor: a morada da Rádio Comercial, o anúncio do António L. Moita que passava nos intervalos do futebol, a lista completa dos emissores de Onda Média (Azurara, Canidelo, Castanheira do Ribatejo… Porto Alto e Viseu), o penalty defendido por Bento num célebre Benfica-FC Porto e relatado por Jorge Perestrelo (“Defendeeeeu Beeeeento. Manuel Galrrrrrinho Bentooooo!”), a voz grave do Costa Monteiro (“pontapé de rede para o Portoooo”), a voz nasalada do João Paulo Diniz (“é o Programa da Manhã… da sua joveeeeem Antena 1”) e até aquele estilo único de um tal Oliveira Gião (“Muito boa tarde para todo o vasto e querido auditório da Comercial”).

Naquele tempo eu não era da Rádio, mas a Rádio já era de mim. Na Rádio Ocidente vivi os tempos irrepetíveis que se vivem naquele tempo. As primeiras grandes alegrias. As primeiras grandes frustrações. Os primeiros grandes trabalhos. Os primeiros grandes orgulhos. As primeiras grandes lágrimas. Os primeiros elogios. Os primeiros raspanetes. As primeiras grandes amizades.

Na rádio fiz de tudo. Sínteses à meia hora. Noticiários à hora certa. Jornais. Grandes Jornais. Reportagens com guião. E outras sem destino marcado. Relatos de futebol, relatos de hóquei, relatos de ciclismo. No estúdio e no estádio. Futebol, sociedade e politica. Fiz coordenação de tardes desportivas com cinco jogos em simultâneo, de Especiais Eleições, com mais de 30 repórteres no terreno, entrevistei, moderei debates. Fiz programas de música. De manhã, à tarde e à noite. Vivi emoções, enviei mensagens subliminares para destinatários certos através das letras das músicas.

Da Rádio ficaram as amizades que o tempo não apagou. Mesmo que os novos tempos e a distância nos mantenham mais afastados. Mas estamos lá. Estaremos sempre lá.

Este evocação pode parecer dedicada só a quem viveu de perto esta história. Mas não, não é uma história privada. Este texto é para todos o que viveram uma paixão como esta. Ou como outra, mas com a mesma intensidade.

Este texto é para os que vivem a paixão da Rádio. Os muitos que por aqui andam e passaram por essa grande aventura das rádios locais. Para os muitos que não passam sem a Rádio todos os dias. Para todos os que vivem a vida com garra, intensidade, paixão.

Hoje, neste Dia Mundial da Rádio, continuamos todos juntos. Porque a Rádio tem essa magia de nos juntar a todos.

Os tempos mudaram, as nossas vidas seguiram outros caminhos, as nossas carreiras outras coordenadas, mas essa paixão primeira não morrerá nunca.

Passaram 31 anos desde que te toquei. Mas não te esquecerei nunca, amada Rádio. E tenho saudades. Haveremos de marcar um reencontro.


Nuno Azinheira | Jornalista.