José do Nascimento | Praia das Maçãs, entre Julho e Agosto

    "Ciclicamente, vá lá saber-se porquê, sinto necessidade de evitar os locais mais procurados para férias, como as praias do Sul, da Costa Vicentina ou da margem sul do Tejo, para me refugiar na Praia das Maçãs. Estes ciclos de chamamento terão uma periocidade média de dez anos. Aconteceu este ano."

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    A Praia das Maçãs terá sido a primeira estância balnear de relevo do litoral sintrense e recentemente foi candidata a uma das “maravilhas” de um concurso televisivo que, confesso, não acompanhei, como normalmente me acontece nos eventos televisivos, principalmente se forem transmitidos à noite, altura em que prefiro uma boa música a acompanhar uma boa conversa ou um bom livro, com um cálice de uma aguardente velha, que vou evitando já que o fígado assim o pede, mas sonhando com um “cubano” que os pulmões rejeitam e ainda bem, para meu bem.

    Hoje a Praia das Maçãs tem forte concorrência, como destino balnear, de outras praias situadas entre o Cabo da Roca e a foz da Ribeira do Falcão, os limites Sul e Norte do litoral sintrense, mas continuará a ser a que mais História nos poderá contar e será a única que, talvez, possamos considerar de urbana, tendo sido considerada a Biarritz portuguesa.

    Praia das Maçãs, em Colares

    Os meus conhecimentos apontam para três nomes como os primeiros urbanizadores do lugar nos finais do século XIX. Vindo das Azenhas do Mar e com o fito de se estabelecer comercialmente, Manuel Dias Prego terá sido primeiro, seguido de, não sei porque ordem, de António Matias del Campo, padre em Colares e de Alfredo Keil, músico e pintor e que foi o responsável pela edificação, junto à sua casa, da ermida da Praia das Maçãs, de onde todos os anos sai uma típica procissão em honra de Nossa Senhora da Praia, que hoje em dia se realiza no último domingo de Agosto… O ritual é bastante interessante e vale a pena, para quem nunca assistiu, uma deslocação à Praia das Maçãs, mas conte com uma enchente e os lugares de estacionamento mais próximos, completamente lotados.

    (…) “Ciclicamente, vá lá saber-se porquê, sinto necessidade de evitar os locais mais procurados para férias, (…) para me refugiar na Praia das Maçãs.”

    Foi ao correr da ponta dos dedos por um teclado que quase entrava numa área onde não passo de amador, mas com coisa amada, a História. Neste mesmo espaço colaboram pessoas bem mais habilitadas que eu na disciplina. Passo então à razão deste texto:

    Ciclicamente, vá lá saber-se porquê, sinto necessidade de evitar os locais mais procurados para férias, como as praias do Sul, da Costa Vicentina ou da margem sul do Tejo, para me refugiar na Praia das Maçãs. Estes ciclos de chamamento terão uma periocidade média de dez anos. Aconteceu este ano.

    Há dez anos atrás, o Verão era mais pacato, a maioria dos veraneantes e candidatos a banhos de mar eram maioritariamente oriundos de Sintra ou Lisboa e pouco mais, Já existia a comunidade surfista que, de então até cá, cresceu exponencialmente. Com Portugal a estar na moda como destino turístico, a Praia das Maçãs não foi excepção, e o “alojamento local” terá passado a dominar a oferta de camas, de tal modo que o mercado municipal e o comércio tradicional passaram a ser local de encontro de várias línguas que eram pouco ouvidas, dez anos antes, então além do português, o inglês ia-se ouvindo. Este ano quase todos os idiomas, principalmente europeus, passaram a ser ouvidos nos locais públicos.

    Praia das Maçãs, – “o pôr do sol”

    Como a minha pele clara se declarou inimiga do Sol, o bulício da praia pouco me incomodou, passei a refugiar-me no terraço de casa, fronteiro ao mar, e com um ligeiro movimento para a esquerda, poderia ver parte da Serra com a Peninha lá no alto. Protegido pela sombra de uma pérgula, pude pôr leituras em dia e disfrutar de inenarráveis fins de dia, quando o Pôr-do-sol simplesmente nos faz sonhar que vivemos num mundo maravilhoso. Mas o mundo não é assim tão maravilhoso na Praia das Maçãs.

    (…) “Protegido pela sombra de uma pérgula, pude pôr leituras em dia e disfrutar de inenarráveis fins de dia, quando o Pôr-do-sol simplesmente nos faz sonhar que vivemos num mundo maravilhoso.”

    Quase no final da minha estadia de cinco semanas, sem aviso prévio e em pleno pico de pressão de visitantes, vários arr4uamentos, entre os quais o que me dava acesso a casa, ficou vedada para asfaltagem do piso, obra há muito necessária, mas que poderia, quiçá deveria, ter sido feita em época mais propícia e com aviso aos prévio aos residentes. O meu vizinho, que ficou privado de tirar a sua viatura particular da garagem durante dois dias, desabafou:

    – “O melhor é calarmo-nos e aproveitar a boa vontade deles para arranjar isto, mesmo fora do tempo adequado!
    – “Mas poderia ter sido melhor planeado.” Retorqui.
    – “E eles perdem tempo a planear? Nem sequer é ano de eleições!

    Esperei dois dias para poder guardar o meu carro dentro de um pátio da casa, nada de muito perturbante. Perturbantes eram os cenários com que me deparava durante as minhas caminhadas matinais, especialmente nos dois ou três dias que se seguiam ao fim de semana.

    Praia das Maçãs – “o recolher do Lixo”

    O cheiro nauseabundo em alguns locais dos arruamentos da Praia das Maçãs, chegava a ser quase insuportável, a explicação aparecia, logo de seguida diante dos nossos olhos, os contentores de lixo estavam longe de comportar aquilo que lá se tentava colocar por manifesta insuficiência na periocidade da prestação do serviço.

    Para além do lixo, os monos junto aos ecopontos amontoavam-se e por ali ficavam, diziam-me que “há meses”. Num local que quer pugnar e chamar a si o turismo em geral, os lixos e os monos amontoados junto aos contentores, em nada ajudam, mas a situação é bem mais grave que o ser desagradável à vista, parece ser um caso atentatório da saúde pública.

    (…) “Reparei que nas redes sociais, estão aparecendo muitas queixas sobre o serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos, que não se confinam à Praia das Maçãs, parece que se estendem a todo o município sintrense. Haverá responsáveis?”

    O mais curioso é que, segundo alguns habitantes de todo o ano da Praia das Maçãs, a degradação dos serviços de recolha de resíduos sólidos urbanos, parece coincidir com a passagem dessa responsabilidade para os SMAS de Sintra. Não são raras as vezes que as remodelações são mal sucedidas e nem sempre bem explicadas… Ficam as fotos do bom e do mau que vivi este ano na Praia das Maçãs.

    Já em nota de rodapé e depois do texto escrito, reparei que nas redes sociais, estão aparecendo muitas queixas sobre o serviço de recolha de resíduos sólidos urbanos, que não se confinam à Praia das Maçãs, parece que se estendem a todo o município sintrense. Haverá responsáveis?

     

    José do Nascimento