Investigadores do Instituto de Física de Materiais Avançados, Nanotecnologia e Fotónica (IFIMUP), sediado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), estão a fabricar, a otimizar e a testar nanopartículas de ouro com potencial no tratamento do cancro.
O trabalho é a base da dissertação de mestrado em Física Médica da estudante Sara Freitas, orientada por Célia Sousa e João Horta Belo. A esta demanda juntou-se o cirurgião José Azevedo, investigador da Fundação Champalimaud. Da amizade entre o físico João Horta Belo e o médico especialista no cancro colorretal, surgiu uma parceria para o futuro. O objetivo é usar as nanopartículas de ouro como reforço da fototerapia e radioterapia. Antes de serem injetadas na corrente sanguínea, podem ser funcionalizadas com marcadores para se ligarem especificamente a determinadas células tumorais.
É esta vontade de chegar a tratamentos menos invasivos, com menos efeitos secundários e que não afetem as células saudáveis que motiva a equipa de investigadores a explorar este ouro à nanoescala.
“Estas nanopartículas são biocompatíveis e agentes fototérmicos, ou seja, são capazes de gerar calor devido à absorção da radiação electromagnética e consequentemente causar a morte das células cancerígenas por hipertermia”, explica o investigador do IFIMUP, João Horta Belo. “Para além disso, são radiossensíveis e, no nosso corpo, funcionam como nanoantenas, multiplicando o “sinal” da radiação do tipo raio X”, acrescenta.
Já existem testes in vivo e in vitro com estas partículas para vários tipos de cancro. No entanto, num estudo de revisão, recentemente publicado, verificaram que há muito poucos estudos e informação sobre a utilização combinada das nanopartículas com a fototerapia e radioterapia.
Para já, o objetivo da equipa está a ser explorar o potencial na fototerapia. No IFIMUP, lançaram mãos à obra e iniciaram um estudo, utilizando um laser contínuo.
“As nanopartículas podem ter diferentes formas: esféricas, em fio ou estrela – que absorvem a luz em diferentes comprimentos de onda”, explicita. “Podemos controlar a morfologia destas nanopartículas de forma a absorverem mais luz próxima da região do infravermelho, para que mais energia passe da pele até às nanopartículas. Quanto maior a energia absorvida por estas nanopartículas, maior o calor que vão libertar para eliminarem as células tumorais”, continua.
Com este estudo, ficou demonstrado que é possível otimizar as condições experimentais para que as nanopartículas absorvam o máximo de energia, produzam mais calor, aquecendo as células cancerígenas e eliminando-as.
Este trabalho de investigação insere-se num estudo mais alargado do uso das nanotecnologias para diagnóstico e deteção do cancro, que originou colaborações com a Fundação Champalimaud, em Lisboa, e com o Hospital Gregório Maranhão, em Madrid.