A Expedição Oceano Azul Cascais, Mafra e Sintra terminou ao fim de 12 dias e de mais de 600 milhas percorridas. Organizada pelos municípios de Cascais, Mafra e Sintra e pela Fundação Oceano Azul, com o apoio do governo português, “esta expedição cumpriu o objetivo de aprofundar o conhecimento da biodiversidade e dos ecossistemas marinhos da região” é o primeiro balanço. Este projeto é o primeiro passo para preencher a lacuna de conhecimento dos valores naturais de uma zona marinha tão próxima da capital do país.

Os 12 dias de expedição científica, durante os quais se realizaram 270 mergulhos, dos quais 154 científicos, permitiram realizar amostragens ao longo de 60 km de costa. Descobriram-se habitats como jardins de corais, campos de esponjas, florestas de kelp e recifes de sabelária.

Também foram identificadas espécies de aves, algumas muito ameaçadas, mamíferos marinhos, como golfinhos comuns e roazes, espécies de peixes, entre elas atuns, lírios e canários-do-mar, e muitas de invertebrados.

Foto: DR Nuno Vasco Rodrigues

Sintra, Cascais, Mafra na linha da frente

A proposta de criação de uma Área Marinha Protegida no mar de Cascais, Sintra e Mafra poderá estar pronta dentro de 12 a 18 meses, disse Emanuel Gonçalves, responsável científico de uma expedição na região que esta quarta-feira terminou.

A criação de uma Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária (AMPIC) é uma proposta dos três municípios que, com o apoio da Fundação Oceano Azul e de diversas instituições, deu agora o primeiro passo, através de uma expedição científica, que hoje terminou.

A bordo do veleiro Santa Maria Manuela, um antigo bacalhoeiro hoje pertença do grupo empresarial Jerónimo Martins, e com apoio de vários pequenos barcos, incluindo de pescadores, uma equipa que juntou 150 pessoas, incluindo muitos cientistas, terminou hoje uma expedição destinada a conhecer o mar da região

Movidos pela vontade de aprofundar o conhecimento do mar ao largo dos seus territórios para o poder proteger e gerir de forma sustentável, os três municípios, Sintra, Cascais e Mafra, pretenderam, com esta expedição, assegurar uma primeira caracterização dos valores naturais da região.

“Este é um exemplo de como o nosso trabalho deve ser, em matérias ambientais, cada vez mais em rede — Basílio Horta (Sintra)

Para Basílio Horta, presidente da Câmara Municipal de Sintra, “este é um exemplo de como o nosso trabalho deve ser, em matérias ambientais, cada vez mais em rede. Um projeto como este, para a criação de uma área marinha protegida tem mais impacto trabalhando em conjunto com os municípios de Mafra e Cascais”.

Basílio Horta sublinha ainda que “Sintra tem uma extensão de costa de aproximadamente 25 km e é por isso que, desde 2020, trabalhamos pela criação de uma Área Marinha Protegida, esta expedição assinala o início de mais uma etapa dessa criação.”

“Cascais é cem vezes maior no mar do que em terra”Carlos Carreiras (Cascais)

“Esta expedição científica multidisciplinar, com vários centros de investigação e com o objetivo de caracterização do habitat marinho e das principais espécies que o compõem, associado ao conhecimento já existente e acumulado ao longo de mais de 10 anos de estudos na zona costeira de Cascais”, destaca Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, sublinhando que este “é o início de tudo, a começar por aprofundarmos as nossas capacidades de desenvolver ciclos de criação de riqueza com o aproveitamento dos ativos estratégicos que possuímos. Cascais é cem vezes maior no mar do que em terra”.

Para o autarca, “só protegemos o que conhecemos e essa é uma verdade transversal a toda a comunidade: científica, económica e social. Para Cascais é este o objetivo final desta expedição científica”, disse.

“Um indispensável contributo, permitindo saber mais sobre este valioso recurso que une Cascais, Mafra e Sintra” — Hélder Sousa Silva (Mafra)

Hélder Sousa Silva, presidente da Câmara Municipal de Mafra, refere que, “para o Município de Mafra, território com uma secular tradição piscatória e que dispõe de 11 quilómetros de costa, 12 praias e a única Reserva Mundial de Surf em toda a Europa, este projeto é crucial para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade marinha“,

O autarca, destaca a importância da presente expedição científica que “constitui, neste âmbito, um indispensável contributo, permitindo saber mais sobre este valioso recurso que une Cascais, Mafra e Sintra”.

Foto: DR Nuno Vasco Rodrigues

Proteção do capital natural marinho

Em jeito de balanço, a Fundação Oceano Azul, destaca a criação de novas áreas marinhas protegidas que é decisiva para a valorização, promoção e proteção do capital natural marinho. “Foi com base nesta consciência e através de um trabalho conjunto, que envolveu no terreno diversas instituições científicas, a par de pescadores locais, que esta expedição foi possível”, refere José Soares dos Santos, presidente da Fundação Oceano Azul. “O oceano precisa urgentemente de ação e com esta expedição os municípios de Cascais, Mafra e Sintra deram um passo decisivo e fundamental para proteger de forma mais efetiva o capital natural marinho”, acrescenta.

Será lançado um documentário e apresentado o relatório científico da expedição entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. Os próximos passos passam pela assinatura de um memorando de entendimento de parceria, o lançamento do processo participativo e assegurar a continuidade dos estudos científicos.

Foto: DR Nuno Vasco Rodrigues

Expedição Oceano Azul
Cascais, Mafra e Sintra em números

• 58 investigadores
• 17 pescadores com 5 embarcações de 4 associações – 248 h de trabalho
• 270 mergulhos, dos quais 154 mergulhos científicos
• Cerca de 50 km de costa
• Mais de 600 milhas percorridas
• Profundidade máxima (ROV): ~96m, Montanha de Camões

Participaram nesta expedição 58 investigadores de instituições científicas como o MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (unidades regionais de investigação do ARDITI-Madeira, Ispa – Instituto Universitário, Politécnico de Leiria, Universidade de Lisboa, Universidade de Évora), o CCMAR – Centro de Ciências do Mar, o CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, a SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, o IPMA – Instituto Português do Mar e da Atmosfera e o IH – Instituto Hidrográfico.

O organização desta ainda a colaboração dos pescadores que foi fundamental, “uma vez que estiveram ativamente envolvidos na expedição, assegurando alguns dos trabalhos desenvolvidos com os cientistas”.

Fotografia: DR Nuno Vasco Rodrigues / Fundação Oceano Azul