A formadora Mónica Franco imita o som de uma coruja para integrar o ambiente que a rodeia e chamar o grupo de professores que a acompanha para uma sessão numa floresta em Sintra recheada de cantos de pássaros.

Esse grupo é constituído por 24 professores e educadores de infância, que se inscreveram na iniciativa “Forest Flow”, uma formação do Movimento Bloom que tem posto, desde junho de 2022, mais de 200 professores do concelho de Sintra a brincar e a aprender na Quinta da Ribafria.

A presidente do movimento e também formadora Mónica Franco orienta os vários jogos que são feitos ao longo do dia, um deles consiste em brincar às fotografias em duplas: um docente faz de fotógrafo, enquanto orienta o seu colega de olhos fechados, toca no seu ombro para os abrir e, assim, capta uma imagem mental do que vê.

Depois chega o momento de “revelar as fotografias”, um processo manual em que têm de desenhar o que guardaram na memória e, no final, expõem os desenhos para deixar os “fotógrafos” reconhecerem as imagens que as suas “máquinas fotográficas” tiraram.

“Assim se retém a beleza que a natureza tem para oferecer”, diz Mónica, que acredita que o jogo apura os sentidos e foca a atenção dos professores em pormenores da floresta. 

Apoiada pela Câmara Municipal de Sintra e pela Fundação Cultursintra, a iniciativa “Forest Flow” quer dar ânimo aos professores e ser uma espécie de “balão de oxigénio”.

“Os professores deviam ser a classe trabalhadora mais bem tratada porque está nas mãos deles o nosso futuro, ensinam as novas gerações”, defende Mónica, que diz que os docentes “estão esgotados” e que esta iniciativa é um “balão de oxigénio” para eles. 

A formadora aponta para um “défice de natureza” dos jovens, que têm uma “diferença abismal” em relação à geração dos professores na “oportunidade de ter brincadeira ao ar livre”. “Os miúdos estão presos em casa. Tive uma infância tão rica e tenho pena que hoje em dia não possam experimentar o que tive”, lamenta Iva Furtado, educadora de infância há quase 30 anos.


O grupo de professores mostra-se ainda preocupado com a falta de socialização, hiperatividade e dificuldade em conseguir a atenção dos seus alunos.

“Tem de haver alguma dinâmica em que se mantenha o foco”, explica Anabela Marques, professora do ensino primário na EB1 Várzea de Sintra, que diz ser preciso inovar constantemente para captar o interesse das crianças.

Os alunos desta escola já tinham estado num outro programa do Movimento Bloom, destinado apenas para crianças, e no qual, durante oito semanas, as turmas visitavam outras florestas em Sintra para brincar na natureza.

As professoras desta escola, presentes agora na formação para docentes, relatam diferenças ao fim de algum tempo: “já andavam mais curiosos e aventureiros, com mais confiança neles próprios”.

Projeto Forest Flow – Programa de Formação na Natureza para Professores

Na formação com a escola da Várzea, Mónica Franco recorda um jogo de duplas em que um aluno com necessidades educativas especiais guiou a professora Anabela, que estava de olhos vendados, até uma árvore que tinha de adivinhar qual era. “Estava maravilhado com o jogo e com a oportunidade”, lembra Mónica, pois o miúdo estava habituado a “ser guiado” e agora tinha a oportunidade de guiar.

A mesma atividade volta a ser feita entre os professores na Ribafria. Como a visão não era usada, os outros sentidos ajudavam na procura pela sua árvore.

Uma docente adivinhou a sua por causa de um longo ramo descaído junto ao tronco, de uma corda presa e de uns cogumelos na terra. “É esta?”, pergunta, e as duas festejam por ter acertado.

Jogos com paus, imitação de animais ou coleção de elementos da natureza: existe uma aprendizagem por detrás das mais de seis horas de brincadeira.


Os professores conhecem assim as atividades desenvolvidas pela ‘Forest School’, uma escola de origem escandinava e inglesa, e o método “Flow Learning”, um programa de educação ambiental.

Neste método, que pode ser aplicado em qualquer contexto, dentro ou fora da sala de aula, existem quatro estágios fundamentais: despertar o entusiasmo, focar a atenção, oferecer experiências diretas e partilhar inspiração.

Mónica Franco sugere que os currículos se adaptem aos interesses das crianças e recorda um exemplo vivido numa das formações com crianças que deixou as professoras deliciadas por verem as suas turmas a rever o ciclo da água. “A escola da floresta está a arder”, gritou o grupo para Mónica, que teve de explicar que, por estar frio e Sol ao mesmo tempo, saía fumo da terra.


Na base da educação ambiental, a formadora acredita que deve estar uma ligação emocional à natureza ao mesmo tempo que se fala dos problemas ambientais, para que não exista “pânico”, mas uma compreensão do que rodeia os jovens.
Os professores lembram no final deste dia que é o “amor à profissão” que os fez estar ali, a divertirem-se, a aprender e a tirar ideias.

Iva Furtado quer continuar a levar as suas turmas para parques e fazer as atividades das árvores porque vão “só mesmo brincar e depois as crianças vão contar aquilo que aprenderam”.

O professor de Biologia e Geologia no secundário, João Calaim, acredita que, mesmo com o foco dos alunos nos exames, terá vantagens na sua aprendizagem: “podem ganhar outras competências e estar mais atentos, alegres e sintonizados”.

Sintra Notícias com Lusa
Fotografia: Movimento Bloom