José do Nascimento | “Os Deus Devem Estar Loucos”

Julgo que terá sido pelo início dos anos 90 do século XX que se estreou em Portugal o filme com o título “Os Deuses Devem Estar Loucos!” Olhando para um passado não muito remoto e olhando em redor pelo que se passa no presente, em alguns casos, quase que apetece parafrasear o título do filme para “Os Edis Devem Estar Loucos!”

Em tempos, em períodos próximos de eleições, assistimos à “febre” das rotundas, muitas delas, atrevo-me a afirmar que a maioria, com toda a razão de ser, mas algumas serviram só para eleitor ver.

Mais recentemente surgiu a “febre” das ciclovias, muitas delas não parecem ser muito apreciadas pelos ciclistas. Em Sintra conheço na perfeição três das ciclovias:
A ciclovia que une a Portela de Sintra a Ouressa, paralela à estrada que une os dois locais referidos, é bastante frequentada como via pedonal, mas é insignificante a utilização ciclistica.

Na recente ciclovia que nasce no Banzão, que nunca a utilizei, só porque passo por lá com bastante frequência, não me lembro de alguma vez lá ter visto uma bicicleta e também me parece um pouco estreita em alguns troços, inadequada na eventualidade de dois ciclistas se cruzarem quando em circulação em sentidos opostos.

Muito agradável é a ciclovia que mais frequento, mas em modo pedonal e que liga as Azenhas do Mar a Janas. Raramente lá vejo uma bicicleta.

Como se constata, pelo menos uma boa parte das ciclovias servem quase exclusivamente para caminhar a pé.
Continuando em Sintra, a “febre” das ciclovias continua acesa e na Portela de Sintra assistimos, há poucos dias, ao nascer de mais uma ciclovia que se adivinha como completamente inútil. Para percurso pedonal, servia o que havia, mas algum deus, que deve estar louco, terá soprado o sonho de uma ciclovia a algum edil… e a obra começou a nascer.

Simultaneamente com o nascimento da obra, nasceu também um sentimento, que se afigura quase unânime entre os moradores e utentes da zona de intervenção, de que se estava a assistir a uma loucura, para alguns, não só pela aparente inutilidade do objectivo, provavelmente para todos, pelo “timing” com que os trabalhos se iniciaram, dado que na mesma artéria onde está a nascer a ciclovia, ainda estavam a decorrer outras obras de uma outra entidade municipal, que está cercear os moradores e utentes da zona, de espaços de estacionamento que, bastas vezes já se mostra insuficiente.

Com as obras de uma ciclovia que não serve para nada, a opinião é minha, pelo menos temporariamente, vai tornar-se complicado estacionar naquela zona sul do bairro da Portela de Sintra, além de todos os outros transtornos inerentes ao ter-se obras à porta de casa, que inclusivamente poderão pôr em causa a eficácia em situações de emergência, tudo isto à custa de algo inútil.

Neste ponto da escrita, o reler do texto tornou-se uma necessidade, então nasceu a dúvida: São os deuses que estão loucos ou sou eu a alucinar?

José do Nascimento