Recordo a publicação ‘Portugal e o Futuro’ de António Spínola que, em 1973, dava nota de uma sociedade portuguesa exaurida, com tropas nas colónias e com um governo que, na metrópole, dava todos os dias sinais de inércia e de inoperância, escudado num auto-sistema caduco, que se fechava em si próprio. Vivia-se mal e estávamos longe de acertar o passo com os países europeus.
Marcelo Caetano era visto como um homem bom. Um moderado, educado e porventura bem-intencionado. O homem das ‘Conversas em Família’ que davam o mote para uma moralizacão artificial de uma sociedade que vivia a preto e branco entre dois canais de TV com hora de abertura e fecho. Perdidos no tempo e enredados numa continuidade que todos queriam mudar, mas que ninguém ousava questionar. Portugal definhava.
Com mais de 600 mil associados, a Associação Mutualista Montepio é o reflexo da sociedade portuguesa. Os associados que a compõem representam, com alguma aderência, a sociedade portuguesa. Da população ativa, que vive do rendimento do seu trabalho. De uma população cuja média etária se compreende entre os 40 e os 60 anos. Com filhos adolescentes ou jovens adultos que preparam para a empregabilidade na vida ativa e que dão suporte a membros da família que precisam de cuidados e do apoio no complemento de rendimentos baixos que auferem. Mas, quem cuida dos que cuidam? Quem dá a mão a esta geração ‘sanduíche’ que tem todas estas responsabilidades e que ainda tem de precaver o futuro de si própria?
Hoje, como na fundação em 1840, a Associação Mutualista Montepio, para formular a sua estratégia e relançar as bases para a sua sustentabilidade, precisa de se regenerar. De cortar as amarras que a prendem ao porto, para navegar, com uma nova geração ao leme. Que devolva a esperança aos que dependem de uma Associação forte, com capacidade de resposta a desafios dos nossos tempos. Moderna e contemporânea, adaptada e capaz de falar a mesma linguagem dos que serão o futuro do país.
O povo português é sábio, e não embarca em aventuras populistas ou francamente disruptivas. É tão sábio que tem a capacidade de escolher o momento para uma transição tranquila, responsável, séria e competente, que confira a passagem do testemunho intergeracional fundamental para energizar uma liderança que enfrentará novos tempos, recheados de imprevisibilidade, que apelam ao profissionalismo e à agilidade, respeitando os que trouxeram as Instituições até aos nossos dias.
A Associação Mutualista Montepio, sendo o reflexo da sociedade portuguesa, também precisa dessa regeneração. De passar o testemunho que permita abrir um ciclo de valorização e de esperança. Na escolha entre o Passado e o Futuro, a Lista D, que se apresenta às eleições da maior Associação Portuguesa que emana da sociedade civil, simboliza a esperança espelhada nos rostos de milhares de pessoas que hoje apelam para o momento certo de evolução tranquila ao invés das imagens a preto e branco de uma continuidade que se perdeu no tempo. É a hora.
Pedro Gouveia Alves
Presidente do Montepio Crédito