Concerto das ‘Noites de Queluz’ revela lado escondido de Vivaldi

O terceiro fim de semana do ciclo ‘Noites de Queluz – Tempestade e Galanterie’ arranca com um concerto dedicado a dois nomes incontornáveis da música barroca: Antonio Vivaldi e Johann Sebastian Bach. Já a segunda proposta dá destaque a um instrumento basilar desta época: o cravo.

A 29 de outubro, a soprano Marie Lys e o cravista Andrea Buccarella revisitam um lado de Vivaldi que era, até há pouco tempo, desconhecido do grande público: as suas cantatas para voz solista e contínuo. Até aos dias de hoje, chegaram-nos 37 cantatas de câmara da sua autoria, a maioria para soprano. “Domínio até recentemente obscuro da produção vivaldiana, este conjunto de cantatas foi objeto de nova edição crítica das respetivas partituras entre meados da década de 80 do século passado e o início do presente século”, explica o musicólogo Bernardo Mariano. Serão apresentadas quatro dessas 37 cantatas – uma “amostra musical deste género musical por excelência intimista”, refere ainda.

No mesmo concerto, o público será ainda brindado com duas transcrições para cravo solo de concertos para violino de Vivaldi, efetuadas por Bach. Estas terão sido realizadas “muito provavelmente a pedido do próprio príncipe, seu amo, Johann Ernst de Sachsen-Weimar, apaixonado por música”, elucida Bernardo Mariano. “Ao fazer estas transcrições, Bach cumpriu decerto o desejo do seu príncipe de poder ouvir obras do seu gosto pessoal numa versão solística”, acrescenta.

Fotografia: Luís Duarte

No sábado, dia 30, o consagrado músico italiano Marco Mencoboni explora um dos instrumentos basilares da música barroca: o cravo. “’Toca-me a alma’ [título do concerto] é um programa solístico assente na história do instrumento e desenvolve-se seguindo um fio condutor que vai de um compositor tão antigo como Rocco Rodio até à música de Johann Sebastian Bach, passando pelo génio visionário de Giovanni Maria Trabaci, pela música de Gerolamo Frescobaldi e pela maravilhosa intimidade do seu discípulo Johann Jakob Froberger”, descreve Mencoboni.

Além deste concerto, Marco Mencoboni será responsável por uma masterclass única, cujo foco é ‘o cravo, a voz e a retórica musical na época de ouro do barroco’, mais especificamente o modo como os princípios da Retórica impregnaram a música para tecla e a escrita vocal na passagem estética e formal entre os séculos XVII e XVIII. Esta masterclass, que decorre nos dias 31 de outubro e 1 de novembro, no Palácio Nacional de Queluz, foi pensada tanto para músicos participantes como para ouvintes.

As ‘Noites de Queluz’ integram a sétima Temporada de Música da Parques de Sintra, com direção artística de Massimo Mazzeo e organização conjunta com a Divino Sospiro – Centro de Estudos Musicais Setecentistas de Portugal. Esta tem como objetivo recuperar a memória imaterial dos três palácios nacionais do concelho – Pena, Sintra e Queluz – recriando o ambiente sonoro existente na época em que estes monumentos eram habitados pela Família Real.