José do Nascimento | “Votar ou não, eis a questão!”

Opinião

Esta crónica poderia ter mais um ou dois títulos para além do que acabei por escolher e um deles, lembrando-me de Oscar Wilde e da sua obra, se optasse por outro título poderia ser: A IMPORTÂNCIA DE SE CHAMAR – (não Ernesto, mas sim) – ZEFERINO. Mais à frente perceber-se-á porquê.

Nas minhas reduzidas férias que recentemente terminaram, todas elas passadas em pacatas zonas rurais, bem longe de quase todo o tipo de poluições, incluindo, e por opção própria, a poluição noticiosa que algumas vezes não passa de ruido, deu no entanto para me aperceber que já se cheirava um ambiente eleitoral, pequenos indícios assim o deixavam perceber, os primeiros cartazes, algumas obras em curso que já deveriam ter sido feitas há mais tempo… aqueles pequenos quês e porquês que são transversais a todo o país, seja ele mais rural ou mais urbano.

Há alguns anos, esta época de antes de eleições, seria profícua em inauguração de rotundas “pré-eleitorais”, se algumas prementes, outras só para eleitor ver. As ciclovias parecem estar agora mais na moda e provavelmente com mais benefícios para as populações, talvez não tanto para os ciclistas que pouco as utilizam, pouco próprias para circulação em grupo, mas sim para quem procura percursos pedonais de bom piso, preferindo-os aos percursos do tipo aventura que não serão para todas as idades, nem tão pouco para todas as vontades. A ilustrar o que escrevi sobre as ciclovias, lembro duas que conheço na perfeição, por as frequentar, a que liga Janas a Azenhas do Mar e a que liga a Portela de Sintra a Mem-Martins, bem mais de 95% da sua utilização, é pedonal.

Acabo de regressar a Sintra, já em pleno ambiente pré-eleitoral, a dois meses do acto já marcado para 26 de Setembro, com os primeiros cartazes na rua, obras em acabamento, enfim, a actividade normal destas épocas e nas quais, muito provavelmente eu participaria e apoiaria se algum vez trocasse a posição de candidato a eleitor, por candidato a eleito… Mas não me parece que isso alguma vez venha a acontecer, única e simplesmente por uma questão de vocação… ou quiçá por quela inércia que tem por lema: Os outros que façam! Honra a todos os que fazem!

Paços do Concelho, em Sintra

Está começado o momento de começar a fazer escolhas e nestas eleições para um órgão de poder de grande proximidade, talvez mais que a escolha de uma área política, o perfil dos candidatos assume enorme relevância. Acontece que desta vez tenho mais uma escolha possível que é a possibilidade de não votar o que equaciono pela primeira vez. Sempre defendi que o acto de votar, além de ser um direito é também um dever e uma forma de respeitar o sistema democrático, mas as pessoas que servem esse sistema democrático, têm o dever de respeitar o eleitor e no acto eleitoral de 2020, senti-me descriminado, logo desrespeitado.

Relembrando os factos: Em 2020 a minha companheira de sempre, a Ana, saiu na companhia da amiga Teresa para exercerem o seu direito de voto na Escola Secundária de Santa Maria, na Portela de Sintra onde existiam quatro mesas de voto, só que a minha companheira, a Ana, demorou bem mais de uma hora, enquanto a amiga Teresa se despachou em dez minutos. Se a Ana votou na mesa um, fui mais tarde tentar a minha sorte na mesa dois, a bicha era extensa, mas pensei que aquilo dividido por quatro mesas, andaria depressa.

De vez em quando aparecia alguém a perguntar os nomes das pessoas, alguém atrás de mim identificou-se como Zeferino e foi-lhe de imediato indicada a mesa quatro e o dito eleitor saiu da bicha e ainda eu não tinha progredido dois metros, vejo o Zeferino regressar sorridente e com o seu dever cívico cumprido. Eu ainda por ali fiquei por mais uma hora! A conclusão que tirei foi que o número de eleitores em cada mesa não era igual e as esperas só se verificavam nas duas primeiras mesas.

Abandonou-se o número de eleitor e as mesas passaram a organizar-se por ordem alfabética, mas isso não invalida que o número de votantes em cada mesa seja o mais igual que possível, nada obriga que o Francisco tenha que votar na mesma mesa do Fernando, só porque a primeira letra do nome é a mesma.

Face ao que se passou em 2020 e caso se repita em 2021, não escolherei nenhuma lista nem nenhum candidato, simplesmente não votarei, não aceito ser descriminado pelo simples facto de me chamar José.


José do Nascimento

PS – Utilizei no texto o termo “bicha” que é definido no dicionário como “fileira de pessoas”. Não compro a ideia brasileira de conotar o termo “bicha” com algo que não consta nos dicionários de língua portuguesa.