As relações entre os responsáveis das autoridades de saúde e a Câmara Municipal de Sintra tiveram um ponto de rutura na passada terça-feira. Dias consecutivos de filas junto dos centros de vacinação e centenas de pessoas a aguardar horas para serem vacinadas deixaram clara a incapacidade das autoridades de saúde local em organizar da melhor forma o processo de vacinação. Depois de vários alertas, o presidente da Câmara Municipal de Sintra pediu a intervenção urgente da “task force”.

“O presidente da Câmara Municipal sempre deixou claro que a autarquia estava disponível para garantir e assegurar todos os meios necessários para o processo de vacinação”, revela fonte do município. “Neste momento a autarquia já investiu mais de 1 milhão de euros, tudo é pago pela Câmara Municipal, tudo o que foi pedido pelas autoridades de saúde foi assegurado, era por isso inaceitável o que estava acontecer”, revela a mesma fonte.

Basílio Horta, Pedro Brás e o vice Almirante no pavilhão de Monte Abraão

O semanário Expresso avança que as críticas sucessivas por desorganização na administração de vacinas contra a infeção pelo novo coronavírus levou o autarca a tomar essa decisão. Segundo o semanário, até esta quarta-feira sob a responsabilidade do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Sintra, a unidade passa agora para a alçada direta da autarquia, com o apoio da task force para a vacinação pandémica.

Reunião de trabalho decorreu no pavilhão após visita ao espaço

Ainda segundo o Expresso a decisão resulta de um ultimato feito por Basílio Horta à ministra da Saúde, Marta Temido, e ao presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARS), Luís Pisco, face às tentativas, falhadas, para que a responsável local pela vacinação adotasse as medidas necessárias para resolver as falhas na inoculação da população. Luís Pisco sublinha que “quando se vacinam duas mil a três mil pessoas por dia é natural que surjam problemas porque é um processo complexo” e nega que a ARS, através do ACES Sintra, tenha sido afastada: “Houve apenas um deslocamento de mais responsabilidades para a autarquia”.

O diagnóstico de complicações em Monte Abraão arrastava-se e no último fim de semana atingiu o ponto de rutura. Era já noite avançada quando cerca de 90 deficientes e dezenas de idosos, em fila na rua tapados com mantas para se protegerem do frio, esperavam pela vacina. A responsável decidiu, então, dispensar os dez enfermeiros contratados para reforço com a justificação de que a autarquia recusava pagar horas extraordinárias.

“As pessoas tinham toda a razão em protestarem. Foi uma barbaridade. Dissemos várias vezes o que seria necessário fazer e nunca fomos ouvidos. E isto quando asseguramos o centro, os computadores, os enfermeiros de reforço e até o papel. Até as vacinas somos nós que vamos buscar com a Proteção Civil”, critica Basílio Horta em declarações ao Expresso. Contas feitas, “só em enfermeiros, porque os que existem nos centros de saúde não chegam, já fizemos um investimento de 364 mil euros em Monte Abrão”. “O contrato prevê para já 18.200 horas de trabalho, que são para utilizar. Portanto, não faz sentido dispensar enfermeiros por falta de pagamento de horas extraordinárias”, explica.

Na manhã de quarta-feira, as ineficiências detetadas no local motivaram um novo prognóstico: Basílio Horta disse claramente ao presidente da ARS de Lisboa, Luís Pisco, que Sintra precisa de mais um grande centro de vacinação, a somar a Serra das Minas, Ouressa, Vila Verde e Agualva. “Em todos a Câmara já investiu mais de um milhão de euros.” O retorno é conseguir vacinar sem contratempos e o vice-almirante Gouveia e Melo foi rápido a prescrever o remédio: disciplina.

Basílio Horta e o vice Almirante definiram com a equipa do centro de vacinação a nova forma de organização.