José do Nascimento | “Entre lixos e resíduos”

Opinião

Segundo um artigo que li recentemente, cada português produz cerca 1,4 kg de lixo por dia.

Considerando que somos cerca de 10 milhões, basta fazer-se as contas para se chegar a um número astronómico de lixo gerado diariamente, resíduos esses que necessitam ser recolhidos, obrigando a uma complicada logística que exige especial acuidade nos grandes centros populacionais. O município sintrense entra neste grupo especial.

As associações ambientais alertam para a urgente necessidade em reduzir esses números astronómicos. Não será surpresa para ninguém a afirmação de que uma boa parte do lixo hoje produzido, poderia ser evitado, mas talvez os meios para evitar esses excessos não sejam os suficientes e a própria sociedade em geral não esteja suficientemente informada ou mesmo preocupada com o tema, mas isso é assunto para especialistas e eu mais não sou que um dos, felizmente já muitos, preocupados.

Há poucos anos a responsabilidade de recolha de resíduos urbanos no concelho de Sintra, passou para os SMAS, situação que na altura e para o exterior, soou a pouco pacífica, mas não terá sido essa a causa de, nos primeiros tempos, em alguns locais do município, a recolha de lixos tenha ficado muito a desejar, talvez a inexperiência da nova estrutura tenha sido o factor responsável.

Hoje a “velocidade” já deve ser de cruzeiro, mas aqui e ali, a eficácia não é a desejável, provavelmente com culpas repartidas entre alguns “produtores” de lixo e a empresa responsável pela sua remoção.

A título de exemplo reporta-se numa foto a uma situação frequentemente existente na estrada que liga Azenhas do Mar a Janas, os resíduos estão ali depositados há várias semanas, estando junto a um ecoponto e um contentor de lixo doméstico, não podem os SMAS desconhecer a sua existência. A pouca distância, junto ao cruzamento da rua do Camejo com a rua dos Cedros, situação semelhante é recorrente e muitas mais se poderão encontrar nas imediações.

Tudo indica tratarem-se de resíduos depositados ilegalmente, o que não deveria ter acontecido, mas que não explica a demora na sua remoção.

Também não se explica que os SMAS, no sector de recolha de lixos e resíduos, escolham horas impróprias para proceder nos contentores de resíduos urbanos, a ruidosos actos de manutenção não urgentes, como a que aconteceu na madrugada de sábado 22/05/2021, entre as 06H30 e as 08H10, na Portela de Sintra, num claro desrespeito pelos direitos dos cidadãos residentes nas imediações da intervenção.

Perfeitamente inadmissível, mas com veemente protesto já enviado aos SMAS, mas sem grandes esperanças de resposta… Permitam-me o desabafo: Muitas vezes, para vários serviços, o munícipe parece ser secundário!

Continuando entre lixos e resíduos, em alguns locais do concelho de Sintra, estamos a assistir à renovação dos contentores de resíduos urbanos. Na realidade, os velhos contentores que pululavam nos arruamentos da urbe sintrense, não primavam pela beleza. Higiénica e sanitariamente discutíveis e, provavelmente pouco funcionais no acto da recolha dos resíduos lá depositados, mas tinham um pedal… O pedal dos velhos e feios contentores evitavam que o cidadão, cioso dos seus deveres, para depositar os seus resíduos devidamente acondicionados, não precisavam de manusear a tampa para o abrir, seguindo as regras higiénicas e sanitárias que hoje, em plena pandemia, assumem especial acuidade. O slogan “mãos limpas”, ficava assegurado com os velhos e feios contentores.

O próprio presidente da autarquia, já veio às redes sociais enaltecer a substituição dos velhos contentores por outros, semi-enterrados no solo, e de visual, indubitavelmente bem mais agradável. A paisagem está a melhorar com a substituição! Também não é difícil de acreditar que a funcionalidade e eficácia na recolha dos resíduos por parte dos SMAS, tenha aumentado…

Quase a terminar esta crónica, veio-me à memória o POEMA DO FECHO ECLAIR de António Gedeão, que termina assim:

…Um homem tão grande / tem tudo o que quer. / o que ele não tinha / era um fecho éclair.

Então lembrei-me…

…Um contentor tão bonito / até parece o ideal. / O que ele não tem / é um simples pedal.


José do Nascimento