António Luís Lopes | “A elite dos calotes”

Pelas Comissões de Inquérito da Assembleia da República dedicadas à derrocada do BES / Novo Banco têm passado muitos daqueles que constituíram a “elite” deste País durante anos a fio.

Uma “elite” de ídolos com pés de barro. De gente sem um pingo de vergonha na cara. De caloteiros impenitentes.

Foi gente deste calibre que logrou ter, durante anos a fio, os favores e a cumplicidade de grandes banqueiros, de governantes, de empresários. Quando tudo ruiu como um castelo de areia – deixaram atrás de si um rasto de destruição económica e social, de “buracos” financeiros, de trabalhadores na miséria, de mentiras e de logros.

Ao serem agora confrontados com as suas “tropelias” nas sessões das Comissões de Inquérito ainda se dão ao luxo de gozar com tudo e com todos – afinal nem sabiam o que geriam, afinal não eram donos de nada, afinal a culpa foi sempre de outros. E lá vão continuando a exibir o conforto de boas vidas e, em alguns casos, até a manter o estatuto social privilegiado, apesar de alegarem ser “insolventes”!…

É aterrador imaginar que gente desta teve (tem…) Poder para determinar o rumo de um País inteiro, para mover influências nefastas, para manipular as Leis que são feitas à sua medida – enquanto a esmagadora maioria dos Portugueses tem que trabalhar no duro todos os dias, recebendo salários que mal dão para (sobre)viverem e sendo impiedosamente perseguidos e “punidos” mal deixem de pagar as prestações da renda de casa ou da mobília ao banco.

Portugal sempre teve fracas “elites” e também nisso se encontra uma razão essencial para o nosso “atraso” a nível europeu. Temos muitos “patrões” – mas poucos empresários dignos desse nome. Temos muitos “artistas” da especulação financeira – e menos empreendedores e inovadores. Ontem já era tarde para rever o “edifício” legislativo que tem possibilitado a quase impunidade a estes vendedores de banha da cobra de alto coturno – para que engulam de vez o sorriso de escárnio com que se apresentam perante os deputados das diversas Comissões de Inquérito e para que os Portugueses deixem de pagar com os seus salários e pensões os desmandos de verdadeiros “gangsters”.

Se assim não for é a própria Democracia que está em risco – e também não haverá “inocentes” relativamente aos titulares de cargos políticos que, tendo tido Poder, não o usaram para fazer o que era devido.

António Luís Lopes