Em entrevista ao Jornal CORREIO DE SINTRA, o autarca eleito como independente no âmbito do movimento Sintrenses com Marco Almeida, que ajudou a crescer, confidenciou o seu desapontamento: “O dr. Marco Almeida entendeu abandonar tudo e todos e regressar ao PSD”.
“Magoado e desiludido com a política partidária concelhia”, Guilherme Ponce Leão, prefere destacar o seu trabalho na freguesia a “proximidade do autarca junto das pessoas” enquanto presidente da Junta: “É preciso fazer o trabalho, identificar as carências e necessidades das pessoas”, com iniciativa, responsabilidade e “sentido do dever cumprido”.
O maior problema na freguesia é a falta saneamento básico, questão que está finalmente a ser resolvida. “Até 2024 temos um investimento de 20 milhões de euros para resolver o problema dos esgotos, mas vai ficar por resolver cerca de 20 por cento da freguesia”, sublinha o autarca. “Não há hipótese de fazer o que falta, porque o esforço financeiro seria por ventura superior aos 20 milhões investidos nos 80 por cento na freguesia” explica Ponce Leão, referindo-se às “casas isoladas, longe do centro das localidades, construídas em zonas sem infraestruturas”.
Ponce Leão dá o exemplo da Cabrela, Silva e Paião e Casais da Cabrela, “onde 80 por cento das localidades vão ficar com o problema dos esgotos resolvidos. No entanto, cerca de 20 por cento de casas, fora do núcleo da localidade de Cabrela, não há hipótese de fazer os esgotos, porque financeiramente os SMAS não podem fazer esse investimento” demasiado elevado e pouco compensatório, tendo em conta a dispersão das habitações.
A recolha de monos da via pública, onde são depositados ilegalmente um pouco por toda a freguesia, é um problema de todos os dias. “Este ano, provavelmente vamos ultrapassar as 500 toneladas de monos”, admite o autarca, que admite que o número de viaturas disponíveis para a recolha de resíduos na freguesia, com uma área geográfica muito grande e dispersa, não é o desejável.
Questionado sobre o papel serviços de fiscalização da autarquia, Guilherme Ponce Leão é muito crítico, lamentando a pouca fiscalização na freguesia.
O abandono de viaturas na via publica e que não são recolhidas pelos serviços camarários, são outra preocupação do autarca. “Temos na freguesia 250 viaturas abandonadas há vários anos na via pública e o ano passado foram retiradas 10 viaturas! Gostava de saber onde?” desabafa o autarca que “não consigo trabalhar com a Polícia Municipal de Sintra! Não acredito que haja aqui qualquer animosidade pessoal! Talvez, dificuldade de organização”.
Freguesia ‘perde’ filhos da terra
(…) “O fundamentalismo do Parque Natural de Sintra-Cascais e o PDM de Sintra, obriga a juventude a viver na zona urbana do concelho, quando temos cá terrenos para a construção de habitação” [Guilherme Ponce Leão]
Guilherme Ponce Leão, é muito crítico na forma de atuação do Parque Natural de Sintra-Cascais, “penalizando muito o desenvolvimento da União das Freguesias de São João das Lampas e Terrugem”, dando como exemplo, a decisão de encerramento das pedreiras no Pedegral, perto da praia do Magoito.
“Acabaram com empresas familiares, que tinham empregados e que extraiam uma das pedras mais bonitas da nossa região. Agora, há 11 anos que temos a céu aberto uma das maiores lixeiras do concelho de Sintra, com o depósito de todo o tipo de entulho. Está lá bidons de óleo, lã de vidro, telhas de amianto” denuncia o autarca: “Onde está o Parque Natural?”.
Por outro lado, ao não ser permitido construir habitação própria, afasta da freguesia os “filhos e netos da terra”, para outras zonas do concelho. “O fundamentalismo do Parque Natural de Sintra-Cascais e o PDM de Sintra, obriga a juventude a viver na zona urbana do concelho, quando temos cá terrenos para a construção de habitação”, refere o autarca, criticando o Parque Natural e o PDM de Sintra, por “não estudar convenientemente as hipóteses de construção para os filhos e netos da nossa freguesia. Ninguém se fixa à terra onde nasceu e cresceu. Urge encontrar soluções e essa é a minha luta contra o Parque Natural”.
As mágoas do presidente
(…) “Tenho uma mágoa muito grande de acabar o meu mandato e de não conseguir fazer o Parque de Campismo de Magoito. É uma vergonha para o concelho de Sintra! Isto colide com o Parque Natural em quê? É uma pena não haver vontade política” (…) [Guilherme Ponce Leão]
Em jeito de balanço de atividade de mandato, Guilherme Ponce Leão, não esconde algumas “mágoas” por não ter conseguido resolver algumas questões. “Tenho uma mágoa muito grande de acabar o meu mandato e de não conseguir fazer o Parque de Campismo de Magoito. É uma vergonha o concelho de Sintra, com mais de 20 quilómetros de costa, não ter um parque de campismo. Foi adquirido há 35 anos pela autarquia, um terreno com 88 mil metros quadrados, em Á-dos-Eis e por causa do Parque Natural, não se faz o parque de campismo para que as pessoas possam disfrutar e até ajudar a alavancar a nossa economia, promovendo os nossos produtos locais. Ando a lutar nisto há 11 anos. A Câmara de Sintra tem a posse desse enorme terreno, constituído maioritariamente por pinhal manso e de onde todos os anos é roubado mais de cinco mil euros de pinha dos terrenos que se encontram votados ao abandono. Isto colide com o Parque Natural em quê? É uma pena não haver vontade política para fazer avançar com o parque de campismo”, desabafa.
Outra mágoa de Guilherme Ponce Leão passa pela construção de uma ciclovia para ligar a Assafora à praia de São Julião e outra do Magoito até à praia. “Está prometida, mas não sei! A freguesia já devia ter acesso às duas grandes praias, antes até de outras áreas do concelho”, considera.
Não conseguir garantir acesso à praia da Vigia, na Assafora, é ainda outra mágoa do autarca que não encontra explicação, “conforme prometido pela Agência Portuguesa de Ambiente. Temos uma praia com uma extensão enorme de areal, das melhores no país e não conseguimos ter o acesso ao areal. Se eu mandasse as praias da Vigia e da Aguda, já tinham uma plataforma de elevador”, desabafa o autarca, apontando uma vez mais o dedo à gestão do Parque Natural de Sintra-Cascais.
Autarca desapontado com a política
(…) “fiz o percurso com Marco Almeida e que agora já não o faço (…) não posso aceitar a sua atitude de abandono. Não deu explicações a ninguém e essa é uma mágoa muito grande” [Guilherme Ponce Leão]
Guilherme Ponce Leão é presidente da União das Freguesias de São João das Lampas e Terrugem “com muito gosto” acrescentando com alguma vaidade, que “os políticos que melhor conhecem a realidade da população portuguesa, são os presidentes de Junta de Freguesia, mas curiosamente são os que menos voz têm sobre o que é preciso fazer”.
Não se queixa enquanto presidente de Junta de Freguesa, sobretudo pelo trabalho realizado nos últimos quatro anos. “Gosto de trabalhar com o dr. Basílio Horta, mas ele precisa de ter uma equipa, e tem alguns, que conhecem bem o terreno para o ajudar, porque ele não falha. Só pode falhar por desconhecimento”, elogia. “Num concelho tão grande e com 400 mil pessoas, temos de ter um conhecimento profundo da alma e do saber da nossa população e é isso que falta aos nossos políticos em Portugal”.
Questionado sobre o relacionamento institucional entre a Câmara de Sintra e a Junta de Freguesia, Ponce Leão destaca sobretudo os últimos quatro anos do mandato. “Há uma amizade e sobretudo, respeito mútuo. Ele entendeu [Basílio Horta] a minha filosofia da política e o porquê de ser independente. Entendeu porque fiz o percurso com Marco Almeida e que agora já não o faço” anuncia o autarca, adiantando em jeito de desabafo, que “não posso aceitar a sua atitude de abandono. Não deu explicações a ninguém e essa é uma mágoa muito grande. Se não fosse eu, o movimento [Sintrenses com Marco Almeida] não chegava onde chegou”, refere Guilherme Ponce Leão, adiantando que “no início deste mandato, o dr. Marco Almeida entendeu abandonar tudo e todos e regressar ao PSD”.
Entrevista na íntegra no Jornal CORREIO DE SINTRA, que já se encontra nas bancas: