Basílio Horta | 25 anos da elevação de Sintra a Património Mundial

A compreensão da autenticidade e integridade da Paisagem Cultural de Sintra, é uma tarefa constante, de entidades públicas e privadas e, neste ano de comemoração, mostra-se relevantíssimo, a renovação do compromisso de salvaguarda permanente e exigente.

Sintra,

Vinte e cinco anos de Património Mundial são motivos para comemoração e júbilo. Mas, também, uma ocasião para a necessária reflexão, balanço e prestação de contas.

A Paisagem Cultural de Sintra é o resultado da soma de muitas épocas, de diferentes culturas, da expressão de visionários, artistas e poetas, de um rei artista com sorte para Sintra e de comerciantes abastados em competição pela edificação palaciana mais extraordinária, contagiadas pela estada da corte nestas paragens.

Na verdade, esta paisagem foi plenamente criada, muitas vezes alterada, sempre melhorada.

E por isso, mais do que depositários do património recebido, o que releva, neste momento de comemoração, é a responsabilidade de o gerir para o entregar às gerações futuras mais valorizado.

A Paisagem Cultural é este conjunto que todos conhecem: os palácios, parques, palacetes e chalés, envoltos numa vegetação exuberante e numa harmoniosa complementaridade entre paisagem natural e uma intervenção humana riquíssima. É este conjunto – esta soma de unidades de paisagem – que foi objecto de classificação pela UNESCO em reconhecimento pelo valor da autenticidade e integridade.

Os predominantes traços históricos e simbólicos da Paisagem Cultural de Sintra, marcam a serra, as suas encostas e vales, de uma região intitulada de finis terrae da europa, com o seu imponente santuário consagrado ao Sol, à lua e ao Oceano, no Alto da Vigia, na Praia das Maçãs.

Esta paisagem proporcionou uma específica e complexa realidade humana que se traduziu na continuada fixação, mistura e convivência, num mesmo território, de gentes oriundas de diferentes regiões europeias, com hábitos, línguas, culturas e religiões diversas que aqui convergiam e coexistiam.

Em dia de aniversário, vale a pena recordar o filme da classificação:

Às 11 horas e 5 minutos do dia 6 de dezembro de 1995, durante a 19ª Sessão da Assembleia geral da UNESCO, reunida em Berlim, Sintra recebia a aprovação da sua inscrição na lista restrita do Património Mundial, no âmbito de uma nova categoria, ainda não atribuída na Europa, a Paisagem Cultural.

Recuando mais um pouco, a junho de 1988, o projeto de proposta inicial do Dr. Vítor Serrão, à época Diretor do Arquivo Histórico de Sintra, passou depois por laborioso e metódico processo coordenado pelo Dr. Cardim Ribeiro, então Chefe da Divisão de Cultura da Câmara Municipal de Sintra.

Com os percalços próprios de uma candidatura longa, com um dossier de apresentação entregue e logo depois retirado, foi, finalmente, levado à apreciação e aprovação da Assembleia geral da UNESCO, ficando formalizado o reconhecimento da Paisagem Cultural de Sintra: a identidade da paisagem excecional era, como referido na proposta aprovada, “o resultado do trabalho da natureza e da humanidade, exprimindo uma longa e íntima relação entre povos e o seu ambiente natural”.

Falta ainda uma referência final aos créditos e atores da Paisagem Cultural.

Os atores que formalizaram e conduziram diplomaticamente a candidatura, passando pelos gestores que administraram, com exigência e capacidade técnica, um património de valor universal, com destaque para a reabilitação do Palácio de Monserrate, valorização do Palácio e Parque da Pena, Chalet da Condessa, Castelo dos Mouros e, mais recentemente, a restituição, em pleno, do Convento dos Capuchos. Mas também a reabilitação de muros, jardins, minas de água, fontanários e caminhos, são fundamentais na valorização da paisagem classificada.

Finalmente, os atores destinatários da Paisagem Cultural, os seus habitantes e residentes, quais donos da classificação, que integram, com as suas quintas e palacetes que pontuam a serra e contribuem para a paisagem excecional. Mas também os atores finais de um produto económico resultante do património, os turistas, o público que demanda o património.

Se até então Sintra tinha monumentos e paisagem exemplares, com a classificação de Paisagem Cultural, passou a ser uma referência mundial.

De simples membro do clube Património Mundial até à posição de notoriedade que hoje possui junto dos parceiros Património Mundial, o valor da Paisagem Cultural de Sintra é hoje reconhecido por todos os que nos visitam e que apreciam a sua excecionalidade.

Este património, que sempre foi reconhecido em Portugal, passava agora a ser de todos, da Humanidade.

A compreensão da autenticidade e integridade da Paisagem Cultural de Sintra, é uma tarefa constante, de entidades públicas e privadas e, neste ano de comemoração da candidatura, mostra-se relevantíssimo, a renovação do compromisso de salvaguarda permanente e exigente.

A Paisagem Cultural de Sintra é, ao fim de 25 anos, uma certeza: pertença, identidade e especificidade, são os desafios da classificação que, apesar da maioridade, deverá ser um processo em constante elaboração, com compromissos e deveres que a classificação implica.

Saibamos todos estar à altura deste desafio em dia de comemoração.

Basílio Horta
Presidente da Câmara Municipal de Sintra

Sintra, 6 de dezembro de 2020