António Luís Lopes | “Só a solidariedade vencerá a pandemia!”

Sofrimento não é ter que usar máscara, lavar as mãos ou manter algum afastamento junto de terceiros – sofrimento é ser avô ou avó, pai ou mãe, estar num Lar ou internado num hospital e não ter o conforto da presença de filhos, filhas, netos, netas, esposa ou esposo, e sentir que a morte pode chegar sem rever, uma última vez, aqueles que se amam.

Sofrimento não é ter que adiar uma festa, um casamento, um batizado, uma jantarada de amigos – sofrimento é ser médico ou enfermeiro, trabalhar horas a mais, viver na angústia de poder ser contaminado e contaminar os seus, ver os casos a aumentar e os recursos sempre limitados e receber de ordenado mensal aquilo que um jogador de futebol recebe numa hora.

Sofrimento não é ter que cumprir regras nas escolas e empresas para proteção de todos – sofrimento é estar sem trabalho, sem rendimentos, viver com o Credo na boca, não dormir a pensar nas contas que não se conseguirá pagar, ter que recorrer ao apoio de outrém para ter alimentos na mesa, conter as lágrimas em frente aos filhos pequenos quando o Natal chegar e não se conseguir dar uma prenda a cada um deles.

Criámos uma sociedade hedonista, egoísta, incapaz de qualquer (pequeno) sacrifício pelo bem comum. Perderam-se referências, valores, noções básicas de solidariedade. Tudo tem um preço e o Deus único chama-se Dinheiro. Cada qual por si. Eu sou mais eu. Que se lixem os incómodos para salvar a Vida de quem não se conhece. Que se lixem os velhos.

Vivemos ébrios de festa, de pândega, de facilitismo, de admiração dos mais fortes, de vencer a qualquer custo. O vício tem mais força que a virtude. O Eu venceu o Nós. E a pandemia reinará sobre todos enquanto alguns (muitos) continuarem a aceitar ser o seu Cavalo de Tróia dentro das muralhas das nossas cidades.


António Luís Lopes