Otília Macedo Reis | Pandemia e desigualdades

Opinião

A democracia plena depende da promoção da igualdade, da diversidade, da inclusão, da equidade.

É necessário despender todos os esforços possíveis para travar o retrocesso dos Direitos Humanos e a discriminação em função do género, da raça e etnia, da identidade sexual, da religião, até da idade, em especial em resultado da pandemia de COVID19 que nos assola.

Vejamos:

– Meio milhão de idosos vivem sozinhos em Portugal e a grande maioria são mulheres (417 mil).
– A proporção de mulheres nos lares é superior à dos homens. A esse facto não será indiferente que as fatalidades COVID19 nas idades mais avançadas sejam maioritariamente de mulheres.
– A desigualdade estrutural no acesso das mulheres à educação, à realização profissional, aos cargos diretivos, ao mundo digital foi agravada pela pandemia.

Em paralelo:

– A maioria dos profissionais de saúde e de assistência social são mulheres.
– 90% dos empregos destruidos pelos efeitos da pandemia eram empregos de mulheres.
– Verificou-se um aumento generalizado da violência doméstica.

As mulheres estiveram, sem dúvida, na linha da frente do combate à pandemia. Mas a linha da retaguarda, a do cuidado dos filhos, dos idosos, dos familiares em grupos de risco e das comunidades, restritas ou alargadas, ficou quase exclusivamente sob a responsabilidade das mulheres, aumentando a sua vulnerabilidade e aprofundando o fosso da desigualdade.

Sabemos que os fundos e os recursos públicos, centrais e locais, são sempre escassos face às necessidades e face ao panorama de grande crise sócio-económica que já se faz sentir e que se adivinha devastadora num futuro próximo. Mas uma coisa é certa, sem os serviços e apoios prestados pelo governo e pelas autarquias, dos quais dependem em número cada vez superior tantas mulheres e tantas famílias, o espectro da iniquidade será cada vez mais visível e destruidor.

Por maioria de razão, esta dimensão da “economia do cuidado”, da atenção aos grupos de pessoas mais vulneráveis, da promoção de estruturas e de serviços de apoio, estruturas e serviços esses que são igualmente criadores de emprego e de dinâmicas de desenvolvimento económico, não pode ficar de fora do Plano de Recuperação e Resiliência de Portugal financiado por fundos europeus.

Prestemos atenção às palavras de António Guterres, Secretário Geral das Nações Unidas e antigo Primeiro-Ministro e Secretário Geral do Partido Socialista – “Sem uma efetiva igualdade de género, a fragilidade das nossas sociedades e instituições é muito maior face às ameaças que enfrentamos”.


Otília Macedo Reis,
Presidente das Mulheres Socialistas de Sintra, MS-ID