António Luís Lopes | O “centrão”

Opinião

O “centrão” é conforme. Nem é chuva – nem sol. Nem branco – nem preto. Nem sim – nem não. O “centrão” tem interesses – mais do que causas. O “centrão” fala bem, é erudito, faz citações, por vezes até parece convicto – mas não se iludam, tudo isso faz parte da encenação.

O “centrão” não sai à rua para protestar, mesmo quando há razões para isso – adora o conforto dos corredores do Poder. O “centrão” é um poço sem fundo – já caíram nele vários bancos, instituições, gestores, favores, cunhas, negócios, países, vidas. Nunca mais ninguém os viu – mas o “centrão” não deixou de exigir pagamento de tributo a quem nada teve a ver com o assunto.

O “centrão” tem um pé no Trabalho e outro no Capital – mas um está descalço e o outro calça sapato italiano de qualidade superior. O “centrão” não desce a Avenida no 25 de Abril – por causa dos pólens, obviamente, que exacerbam a sua rinite alérgica. O “centrão” é um modo de vida – mas não é para todos, é só para quem esteja disposto a ver a elegante roupa do Rei que caminha nú.

O “centrão” é radical – ou ele, ou o abismo. Mas consegue passar por “moderado”. O “centrão” é comparado a uma balança – mas balança. Diz-se ao “meio” – mas desvia-se. Proclama-se equidistante – mas caminha sempre à direita. O “centrão” é generoso – com quem o recompense.

O “centrão” é a resignação, o “sempre foi assim”, o “é melhor um pássaro na mão do que dois a voar”, a “paciência” – mas apenas como forma de convencer os outros a mantê-lo, porque ele não abdica de nada.

O “centrão” é um camaleão – tem a camuflagem perfeita em cada momento, desde que logre atingir os seus fins. O “centrão” anseia por ser o fim da História – e por isso nos conta histórias.

O “centrão” parece um anjo – mas já vendeu a alma ao Diabo há muito tempo…”

António Luís Lopes