José do Nascimento | Crónica de uma crónica que ficou por escrever

Opinião

Neste radioso dia de Verão de Julho de 2020, acordei com uma ideia de crónica na cabeça. Como é meu uso e costume, a partir da ideia inicial, é nas minhas matinais caminhadas que vou delineando todo o texto, que da cabeça passam posteriormente para a ponta dos dedos quando me sento frente ao computador para teclar toda a ideia.

Da Portela de Sintra, passando pela rua que vulgarmente é chamada por Estrada do Caracol, pouco depois pelo Jardim da Vigia e a sua deslumbrante paisagem, seguindo viagem em direção à Vila, quando, ao chegar ao Arrabalde, já tinha a crónica bem delineada na cabeça e já com título: “Outras Pandemias Para Além do COVID”… Então deparei com o Gandarinha…

Muito se tem falado do Palácio do Gandarinha, a meio caminho entre São Pedro e a Vila Velha, pelo menos as redes sociais estão pejadas de notícias e opiniões, mas mesmo assim talvez justificasse uma crónica a que imediato dei título: “Crónica de Uma Obra Parada”.

Realmente parecem excessivos os acrescentos ao edifício principal, principalmente as apensações do lado da Fonte da Sabuga e, como parece lógico, surge a pergunta: “Tudo aquilo que, entretanto, foi construído consta do projeto aprovado pelas autoridades competentes, ou são excessos do dono da obra?” Conforme a resposta, há que responsabilizar… Já são demasiadas as vezes em que a culpa morre solteira, mas este folhetim lembra-me a antiga Pensão Bristol, hoje Sintra Boutique Hotel, novela que, bem ou mal, já teve o seu epílogo. Talvez um bom tema para uma outra crónica.

Postos os pés, de novo, ao caminho em direcção à Fonte da Sabuga, tendo como destino próximo a Vila Velha, até ao terreiro Rainha D. Amélia (Paço), Descendo ao Largo Ferreira de Castro, daí até ao Largo Dr. Carlos França (Pizões) e então percorrer a Rua Consigliéri Pedroso. Neste percurso deparei-me com dezenas de ciclistas em sentido contrário ao que eu escolhi em modo pedonal, em claro desrespeito pela sinalização… Em todo este trajeto não encontrei um só ciclista a pedalar no sentido indicado pela sinalização de trânsito. Uma autoridade abalizada na cobrança de multas e coimas, esta manhã, faria engordar os cofres do Estado. Mas será razoável vedar o trânsito a ciclistas no sentido contrário ao atrás indicado uma vez que podem circular na Volta do Duche no sentido Estefânia / Vila Velha? Aí chegado o ciclista fica só com uma opção, voltar para trás… Mas o Departamento de Trânsito da Câmara Municipal de Sintra, lá terá as suas razões, mas este tema, também poderia ser tema para nova crónica.

O Centro Histórico estava vazio! Se a determinada altura, antes da pandemia, havia gente a mais, agora há de menos. É triste!

Na Volta do Duche encontrei um amigo da “velha-guarda”, um dos poucos que ainda resistem a residir na Vila Velha, mais um tema para nova crónica). Vinha de máscara corretamente colocada e anunciou que era o equipamento de protecção que a Câmara lhe pusera na caixa do correio… Também eu recebi o envelope com quatro máscaras. As minhas memórias voltaram ao que vou lendo nas redes sociais. Quando surgiu o anúncio de que a Câmara pretendia distribuir pela população, máscaras de protecção, os “facebook” e congéneres viram-se inundados de comentários do tipo “não recebemos nada, é só promessas” e quando as máscaras começaram a aparecer em muitas caixas de correio, muitos dos comentários passaram a ser do tipo “começou a campanha eleitoral”… Não será fácil ser “prior” desta freguesia!

O abraço ao amigo ficou-se por uma cotovelada… Que tristeza, mas lá segui caminho com a ideia de uma nova crónica.

Era inevitável ter que passar em frente aos Passos do Concelho. Os meus neurónios levaram-me a uma notícia que tinha lido, logo pela manhã bem cedo, no “Sintra Notícias”, sobre o controle da pandemia SARS-CoV 2, no concelho de Sintra e rezava que dois vereadores da oposição acusavam o executivo de adulterar dados sobre a evolução dos contágios. O executivo por sua vez desmente e ameaça procedimento judicial. No caso de haver alguma verdade na acusação, é muito grave. No caso da acusação ser falsa é igualmente grave e baixa política. Acrescente-se que a concelhia do partido a que pertencem os dois vereadores, declarou não se rever nas afirmações dos seus dois militantes. Eis um bom tema para uma nova crónica.

Aqui chegado já sem espaço para a primeira das crónicas que tinha idealizado, acabo por, indirectamente, abordar uma recente pandemia para além do COVID, mas já muito em voga, tendo já ajudado a eleger presidentes de grandes países, as “fake news” que proliferam nas redes sociais, para que delas se tirem dividendos políticos.

Ao chegar a casa, tive de concluir que acabei por ter muitas ideias para uma crónica, mas só ficou a “crónica de uma crónica que ficou por escrever”.


José do Nascimento