“Nessa madrugada do dia inicial, inteiro e limpo”, [como poetizou Sophia de Mello Breyner] os militares de Abril foram claros nas suas promessas: terminara a repressão, regressara a Liberdade e a Democracia.
Naquele dia o país, nem percebeu bem o que estava a aconteceu, mas rapidamente entendeu que podia e queria fazer a festa.
Era dificil imaginar que a sequência dos acontecimentos pudesse estar tão dependente da vontade e da coragem de um homem: chamava-se, Fernando Salgueiro Maia.
Foi ele que comandou a coluna militar que saiu de Santarém e marchou sobre Lisboa, ocupando o Terreiro do Paço, no dia 25 de abril de 1974. Horas mais tarde comandou o cerco ao Quartel do Carmo, que terminou com a rendição do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano e do regime.
Foi na chaimite “Bula”, que o Capitão Salgueiro Maia durante as operações militares do dia 25 de abril de 1974, deu a Portugal a Liberdade. Como um verdadeiro soldado, personificou a coragem e depois retirou-se para o homónimato da vida militar.
Foi na madrugada de 25 de Abril de 1974, durante a parada da Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém, que Salgueiro Maia proferiu o célebre discurso:
“Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os estados socialistas, os estados capitalistas e o estado a que chegámos. Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos! De maneira que, quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto. Quem for voluntário, sai e forma. Quem não quiser sair, fica aqui!”
Todos os 240 homens que ouviram estas palavras, ditas de forma serena mas firme, tão característica de Salgueiro Maia, formaram de imediato à sua frente. Depois seguiram para Lisboa e marcharam sobre a ditadura.
Para as tropas iniciarem o movimento, foi transmitida, como sinal pela Rádio Renascença, a canção Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, à uma da manhã. Sem grande resistênca das forças leais ao Governo, todos os principais objectivos foram conquistados ao longo do dia.
O povo saiu à rua para cumprimentar os soldados e distribuíram-lhes cravos, que se tornariam um dos símbolos da revolução e que se mantêm, 46 anos depois, mesmo em tempo de pandemia e recolhimento social.
- Jorge Tavares com João Marques Valentim
- Fotografia: DR Marques Marques Valentim