José do Nascimento | Diamantes Negros

    Foi bonita a festa, pá!

    Nos anos 50 e 60, observa-se uma verdadeira revolução no âmbito da música ligeira, movimento que se foi alastrando, principalmente, pelo chamado “Mundo Ocidental”. Como era costume na época, essas “modernices” chegavam a Portugal com atrasos, por vezes significativos, mas o Rock e o Pop Rock, acabaram por chegar e começaram a proliferar as bandas, na altura conjuntos.

    Sintra não escapou à moda e neste canto do Ocidente Luso, a banda que terá tido mais visibilidade, foram os Diamantes Negros que recentemente celebraram mais um aniversário, o56º. Hoje em dia a banda está praticamente desactivada, mas ainda se reúnem bastas vezes com amigos, que a maior parte deles são aqueles que os seguiam e se identificavam com as suas músicas dos anos 60 e 70.

    Quando os Diamantes Negros celebraram o 50º aniversário, pediram-me que narrasse o modo como o grupo se formou, algo que acompanhei de perto. Saiu o texto em forma rimada, “A malta quer é rock”. Foi apresentado na Sociedade União Sintrense no próprio dia do 50º aniversário, 25 de Janeiro de 2014, e abriu o concerto de 11 de Maio do mesmo ano, no Centro Cultural Olga Cadaval…

    Vamos ao que a malta quer:

    A malta quer é rock

    I
    Houve muito estremecer de pélvis
    Com o aparecimento de Elvis
    Nos idos anos cinquenta!
    Shadows e Cliff surgiram
    E muitos corações afligiram…
    Estávamos nos anos sessenta!

    II
    Em Sintra, nada se passava
    Vinha tudo da estranja.
    Havia sim, umas corriditas na Granja
    E o que na rádio se escutava.

    III
    Muitas noites de estio, no fundo do Paço
    Há muito eleito o espaço
    De reuniões de malta amiga
    E um ou outro alívio de bexiga.
    O Álvaro Zé e o Cainhas
    Que eram bons de gaita… de boca
    Animavam com umas musiquinhas
    Uma plateia que nada tinha de oca
    E que um dia gritou: “A malta quer é rock
    Que haja quem o toque!

    IV
    Cainhas assumiu-se como o homem do tambor.
    A primeira tarola foi um fervedor,
    Para timbalão, nada como uma panela…
    Grita-lhe a mãe da janela:
    Carlitos, toca mais baixo
    Que estás a dar cabo do tacho!
    A verdade é que aquele trem de cozinha
    Serviu para adestrar a mãozinha
    Do baterista do beco do Briamante,
    Um dos primeiros a lapidar o “diamante”.

    V
    Entre ânsias e algumas correrias
    Apanágio de Álvaro da rua das Padarias,
    Com a gaita definitivamente arrumada
    Ensaiou a primeira guitarrada
    Minimamente ritmada.
    Apareceram alguns medos
    Com os primeiros calos nos dedos,
    Mas não existe incapacidade
    Onde impera a tenacidade.

    VI
    Mas era preciso mais, muito mais
    Que acabou por vir do largo do Morais.
    Foi o Cainhas a tirar da sacola
    Um velho companheiro de escola,
    Carlos… O Xixó da viola
    Que tocava piano e falava francês.
    Este novo freguês
    De ar bem Beetlado,
    E Shadows no coração
    Cedo se assumiu como líder incontestado.

    VII
    Para dar um ar culto, quase sinfónico
    Foi-se procurar um filarmónico
    Que não pusesse a boca no trombone
    Mas que tocasse saxofone.
    E o Carlinhos da Penalva não saiu treta
    O rapaz era mesmo bom de palheta.

    VIII
    Na altura, a coisa pouco andava
    Não atava, nem desatava,
    Até que o senhor presidente
    Se reuniu com toda a gente
    E anunciou: “Vocês são gente amiga,
    Mas chega de coçar a barriga,
    Está na hora de começar a tocar
    Para a malta bailar…
    Ou então, podem pôr-se a andar!
    E foi por isso que o 25 de Janeiro se animou
    E o povo gritou:
    Este é o rock que fazia falta
    Os Diamantes Negros são cá da malta!

    IX
    Sintra já tinha o seu próprio rock,
    Mas faltava um pequeno retoque
    Que veio da rua da Biquinha
    Oriundo da terra da sardinha.
    Nunca o alto, bem alto Luís
    Se sentiu tão alto e tão feliz
    Quando o Cainhas lhe anunciou:
    Sabes o que eu acho,
    Tu que és alto, vais tocar baixo!

    X
    O baile já está armado
    Por isso, chega de tanto passado.
    Pode haver quem goste deste cavaqueio
    Mas julgo que já chega de paleio,
    Porque a malta quer é rock,
    Que haja quem o toque!

    Mal soaram as últimas palavras, do palco do Olga Cadaval arrancaram as guitarras e os tambores, a malta teve rock e muitos disseram : Foi bonita a festa, pá!


    José do Nascimento