Pedro Gouveia Alves | Conto de Natal

Pessoas felizes desenvolvem um clima organizacional propício à obtenção de resultados. E os resultados motivam as pessoas que os formam. Tão simples quanto difícil e complexo.

Pelas ruas do Porto, soprava uma aragem húmida. Era cedo, e a maior parte dos colaboradores ainda não tinha chegado ao escritório. As duas responsáveis pela elaboração do jantar de Natal da empresa preparavam-se para uma reunião sobre o tema. Ainda não tinham as ideias claras, mas sabiam que, dentro de portas, cada realização que envolva toda a equipa, tem de trazer algo de inovador, envolvente e surpreendente. E sempre com um princípio presente: mais de um terço das vidas das pessoas é passado na empresa, em contínuo relacionamento com cada um dos que integra a equipa, pelo que a constante reinvenção da “fórmula natalícia”, parecendo que não, é um enorme desafio.

Há muito que a relação entre pessoas nas organizações é mais do que uma relação contratual entre trabalhador e empregador. É, acima de tudo, um ecossistema em que pessoas interagem com objetivos, pessoais e coletivos, que se cruzam e que fazem parte do “road map” que nos guia à prossecução da visão, missão, valores e posicionamento estratégico do negócio. É sempre pertinente questionar qual a razão de ser da empresa, a que a resposta nem sempre é fácil, mas cuja reflexão é incontornável. E, nesse caminho, a identificação do que melhor existe em cada indivíduo que compõe a equipa, é fundamental para maximizar o valor coletivo.

Em suma, pessoas felizes desenvolvem um clima organizacional propício à obtenção de resultados. E os resultados motivam as pessoas que os formam. Tão simples quanto difícil e complexo. Mas é este o verdadeiro desafio do, chamemos-lhe, Chief Happiness Officer. Título que aplicarei às duas responsáveis pela organização do “nosso” Natal. As embaixadoras de um evento singelo, genuíno, frugal nos recursos aplicados mas preenchido de alma, e, acima de tudo em que cada um se sente a participar numa família, com que se cruza todos os dias.

Foram cinco as Instituições de Solidariedade Social escolhidas. O desafio era uma participação em cinco grupos de cinco pessoas. O objetivo era conhecer o trabalho de cada Instituição, elaborar um vídeo criativo, “home made” sobre cada uma, e trazer por essa via, esse conhecimento para dentro da empresa. No dia do jantar de Natal, esses vídeos foram exibidos e a empresa associou-se na ajuda a cada uma dessas organizações, canalizando recursos de forma solidária, envolvendo todas as pessoas, e unindo-as numa causa maior.

Foi assim o Natal de 2018. Desde então, estas Instituições são acompanhadas em permanência pelos colaboradores da empresa no desenvolvimento das suas atividades. Foram estabelecidos elos de amizade, e hoje, pelo tempo dedicado por cada um, são Instituições apadrinhadas em gestos simples e contínuos.

Em 2019, o Natal transformou-se, uma vez mais, num gesto de solidariedade, através da “árvore dos desejos”. Uma iniciativa que nos levou à realização de desejos de duas Instituições: uma de apoio a crianças, e outra de apoio a idosos. Gestos tão necessários como a ajuda para a aquisição de equipamentos, e tão simples quanto a organização de passeios, de atividades com crianças, ou como o convite para levar os mais seniores a um estádio para ver uma partida de futebol.

Hoje, como há um ano, decidimos doar esperança. E participar ativamente nela.

As organizações são feitas por pessoas. Que valorizam as coisas mais simples e os gestos mais nobres. O Natal das empresas é sempre que nós quisermos. Basta querer.


Pedro Gouveia Alves
Economista. Presidente do Montepio Crédito.

[Artigo de Opinião publicado no Jornal Económico e no Sintra Notícias]