José do Nascimento | Haja Saúde

Opinião

A saúde publica em Portugal, assenta basicamente no Serviço Nacional de Saúde (SNS) cuja existência é defendida por uns, dispensável por outros e ainda há sectores que defendem uma crescente convivência do SNS com o sector privado. A actual realidade é que existe um SNS que se pretende abrangente a toda a população portuguesa.

Quanto à qualidade dos serviços prestados pelo SNS, também se dividem as opiniões, algumas influenciadas pelas experiências boas ou más – não há serviços perfeitos – muitas acusações, por vezes não fundamentadas, mas divulgadas porque dá jeito, como aconteceu durante a recente campanha eleitoral em que as redes sociais se viram inundadas de fake news, mas que davam jeito.

Não estou habilitado a fazer uma análise séria sobre o funcionamento do SNS, mas tão somente poderia comentar as minhas experiências pessoais, que aqui não interessam, mas que vão do muito bom até ao desagradável, nunca tendo passado por experiências verdadeiramente más.

No entanto posso apontar uma lacuna grave no SNS, a inexistência de um hospital em Sintra, a importância do município assim o mereceria. Está prometido para o final da actual gestão camarária. É verdade que vem tarde, mesmo muito tarde, mas também é verdade que mais vale tarde que nunca. Os arautos da desgraça dirão que se trata de mais uma promessa para não se cumprir, mas verdade é que que, de um modo geral, se tem vindo a cumprir o que vem sendo prometido.

Confirmando que mais vale tarde que nunca, Sintra tem um novo centro de saúde que mereceu, a par de outros dois, inauguração com pompa e circunstância. Mas será que valeu a pena? O poeta escreveu: Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!

Novo Centro de Saúde de Sintra

Vejamos:

Valeu a pena trocar um velho edifício projetado para outras funções que não um Centro de Saúde, por um novo edifício também projetado para outras funções? Parece que se passou de uma adaptação para outra.

É de crer que as condições de trabalho para o corpo clínico tenham melhorado e bastante, o que se pode também considerar um aspeto positivo para os utentes. Seria expectável que as condições de trabalho para os funcionários de recepção de utentes, tivesse melhorado, mas como adiante se verá, assim não parece.

Vale a pena recrear uma visita ao novo Centro de Saúde de Sintra e fazer algumas comparações com o anterior.

Quem optar pelo modo pedonal, dado não ser significativa a distância entre a anterior e a actual localização, o utente não achará qualquer diferença.

Para quem a opção são os transportes públicos, estava melhor servida a anterior localização do centro, dado o local actual tem a servi-lo transportes públicos que provêm do litoral e do norte do município, zona razoavelmente servida por centros de saúde ou extensões dos mesmos, de que é exemplo Colares, Várzea de Sintra, Terrugem ou Pêro Pinheiro, logo serão poucos os utentes do Centro de Saúde de Sintra a utilizar estes transportes. Um ponto negativo na óptica do utente.

Na opção pelo transporte privado, logo obrigando a estacionamento, se no anterior era extremamente escasso, para servir o actual centro, o estacionamento, pura e simplesmente não existe, a própria paragem para fazer apear eventuais passageiros, é problemática, pois a crer no sinal de trânsito colocado nega o acesso às traseiras do centro, a paragem terá que ser feita numa faixa de BUS. Neste aspecto, o que estava mal na anterior localização, está hoje também mal ou pior.

Quando se trata de um utente dependente de companhia, a situação agrava-se, obrigando a que sejam dois os acompanhantes do doente, um para o acompanhar dentro do centro e outro para conduzir o veículo e depois procurar estacionamento, o que em caso algum conseguirá sem percorrer, no mínimo, cerca de 600 a 700 metros. O que era mau, mau continua.

Já dentro do centro, aguarda o utente uma insuficiente e escura sala de espera, onde são muito elevadas as hipóteses de ter que se esperar de pé. No anterior centro, existia mais que uma sala de espera, sendo a primeira para quem aguardava o procedimento administrativo e as outras para quem já tinha sido encaminhado para consulta ou tratamento. Hoje juntam-se todos os utentes na mesma sala, uma solução bem pior que a anterior, considerando-se este, um factor em que não foi tomada em conta o conforto do utente.

A sala de atendimento administrativo, parece desajustada para a função, tratando-se de uma zona com um exagerado pé direito, tornando-se numa zona desconfortável, tanto para funcionários como para utentes. No acto do atendimento, quase que parece que o utente se senta numa cave e o funcionário no rés-do-chão dado o desnível existente, uma situação que os psicólogos consideram intimidante e a evitar em situações de atendimento, aspecto em que mais uma vez o utente ficou pior.

A minha experiência no novo Centro de Saúde de Sintra, diz-me que passados o obstáculos já descritos, o atendimento médico e as instalações onde o acto é praticado, não oferecem qualquer reparo, sendo notória a melhoria de condições de trabalho para o corpo clínico.

Pena os reparos descritos que me levam a ter que esperar por um centro de saúde em Sintra, concebido de modo a pôr em pé de igualdade as condições de trabalho e as necessidades dos utentes, até lá… Haja Saúde!


José do Nascimento