O presidente da Câmara de Sintra considerou hoje “intolerável” as 57 supressões de comboios na principal linha suburbana de Lisboa, em dois dias, recusando a atual política orçamental que trava a contratação de pessoal para manutenção do material circulante.
“O que está a acontecer em Sintra em matéria de transporte ferroviário é intolerável. Já falei com o senhor ministro Pedro Nuno Santos e estou inteiramente solidário com ele, porque é o primeiro a reconhecer que esta situação é intolerável”, afirmou Basílio Horta.
O autarca eleito pelo PS, em declarações à Lusa após ter falado com o ministro das Infraestruturas e da Habitação, reagia à supressão mais de duas dezenas de comboios por dia, desde segunda-feira, levando os utentes “a uma situação de justa indignação”.
“Temos muitas composições paradas, há longo tempo por falta de assistência, por falta de mão de obra para reparar o material circulante, porque não é possível, segundo o Ministério das Finanças, estar a contratar pessoal para reparar esse material circulante”, explicou Basílio Horta.
Fonte oficial da CP-Comboios de Portugal confirmou à Lusa que na segunda-feira foram suprimidos 20 comboios na Linha de Sintra, para reparação e manutenção e que, na terça-feira, não se realizaram 24 até meio da tarde, número que, entretanto, foi atualizado para o total de 57 supressões nos dois dias.
“Não é viável, não é possível, o senhor ministro tem a nossa inteira solidariedade para recrutar o pessoal necessário para a EMEF [Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário], para que o material circulante possa ser reparado, para obviar esta situação absolutamente impossível de manter”, frisou o autarca.
Para Basílio Horta, além de, “nos dias de calor, as carruagens circularem sem ar condicionado”, não é possível “manter os serviços públicos” nesta situação.
“Tudo isto é inconcebível, numa altura em que se faz o passe único de 40 euros, em que há um aumento da procura, e as pessoas ficam aos montes nas estações, sem poderem entrar nos comboios”, desabafou o autarca, numa alusão à criação do passe único metropolitano de transportes.
O autarca concorda com a necessidade de controlar o défice, mas “não assim”, advogando “uma reflexão muito séria sobre a política orçamental” do país, quando “se não fosse a transferência para os bancos havia ‘superavit’ no Orçamento do Estado”.
“Para o ano, se calhar, vamos ter excesso no Orçamento. Quer dizer, temos um país com excesso no Orçamento, onde as pessoas se amontoam nas carruagens como gado, onde suprimem comboios, onde não há o mínimo de conforto”, afirmou.
Perante a constatação de que a situação “é o custo da política orçamental”, Basílio Horta deixou claro: “Não contam connosco para apoiar uma política assim”.
Fonte oficial da CP assegurou na terça-feira que “a CP e a EMEF estão a trabalhar para que, no mais breve espaço de tempo possível, sejam repostos os níveis de disponibilidade do material circulante, o que deverá ocorrer nos próximos dias”.