Maurício Rodrigues | Correia de Andrade “O Generoso”

    OPINIÃO

    Atribuirmos a António Correia de Andrade o cognome de “O Generoso” parecerá excessivo a quem nunca com ele teve o privilégio de privar, contudo a quem lhe foi concedido tamanha honra, estou certo que até lhe parecerá pequena e simplista esta adjectivação, e facilmente encontraria mais e  melhores palavras  para definir aquilo que este homem representou, que foi a amizade, o companheirismo, a solidariedade, o associativismo, a simplicidade e a lealdade.

    Correia de Andrade só estava bem entre os amigos, tinham que ser sempre em grande quantidade, se calhar para conseguirem acompanhar a grandeza do seu coração. Foi um homem ímpar em Sintra, que se distinguiu em tudo participava e colaborava, era um homem de mão cheia.

    Tudo para si era motivo de celebração, desde o aniversário, a uma simples acontecimento, ou simplesmente porque lhe apetecia ou alguém sugeria, podemos dizer que festejava a vida.

    A sua casa em Sacotes, no Algueirão era um autêntico “museu”, adorava convidar os amigos e debaixo do enorme telheiro, proporcionar-nos saborosas refeições, que se estendiam pela tarde fora até ao pôr-do-sol ou noite dentro. Contudo, antes do repasto e independentemente de ser a primeira ou a vigésima vez que nos recebia, tínhamos que visitar todas as divisões da sua casa, em visita guiada, ele era o guia, como se de uma peregrinação se tratasse.

    Ali tudo tinha uma história e uma razão de ser, desde as antigas mobílias, às fotografias de familiares e amigos, às obras de arte, ou às peças de decoração ou de utilidade. Do interior da casa entrávamos directamente na adega, repleta de uma variadíssima diversidade de bebidas, fazendo sempre questão de abrir uma garrafa que considerava especial para assinalar aquele convívio.

    Por fim, entrávamos no seu mundo preferido, como se de uma criança se tratasse com os olhos a brilhar, chagávamos ao salão onde depositava o acervo adquirido durante toda a sua vida, era o seu espaço cultural e etnográfico, fruto da sua disponibilidade e entusiasmo, a que apelidávamos de “museu” do Correia de Andrade, um enorme salão repleto de história e de cultura, com milhares de peças antigas, dando a conhecer o mundo rural, a vida doméstica, o comércio tradicional, a religiosidade, os antigos ofícios e modo de vida. Onde também constava, o cartaz com a sua fotografia de candidato a presidente da Câmara Municipal de Sintra e as fotografias que marcaram a sua vida.

    O acervo do “museu” do Correia de Andrade deveria ser adquirido por uma entidade pública (Junta de Freguesia de Algueirão-Mem Martins ou Câmara Municipal de Sintra) devia ser devidamente tratado e exposto ao serviço da comunidade, valorizando e colocando à disposição do público uma herança cultural e etnográfica colectiva, pois integra colecções de objectos relacionados com os diferentes aspectos sociais, económicos e culturais da sociedade, tendo em vista o seu passado, bem como o seu desenvolvimento presente, podendo-se reviver vivências de antigamente e apreciar as tradições, a cultura, a ruralidade, a evolução das profissões

    Todos já sentimos saudades do amigo Correia de Andrade, da sua boa disposição, do seu companheirismo, dos lugares meticulosamente marcados na sua enorme mesa (de vários metros) com o nome de cada convidado, da sua alegria contagiante, das suas histórias de vida, da sua disponibilidade, das suas experiências, da sua amizade com que a sua existência nos brindou e de termos tido o privilégio de com ele ter convivido.

    Correia de Andrade quis ser sepultado na sua terra natal, Proença-A-Nova, junto dos seus pais, o corpo levaram-no, mas a memória essa fica connosco em Sintra, junto dos seus amigos até que a morte um dia também nos venha buscar.

    Maurício Rodrigues
    Presidente da Concelhia de Sintra do CDS-PP