António Luís Lopes | Relação de Confiança

Opinião

A Direita tem procurado aproveitar a questão das nomeações “familiares” no Governo. E aproveita-a, misturando (propositadamente) nomeações que têm, na sua essência, a confiança política e a transitoriedade, com outras que nada têm a ver com estas condições, para que desta amálgama resulte uma censura generalizada ao atual Governo.

Parece-me óbvio que se escolham para cargos de CONFIANÇA POLÍTICA aquelas pessoas com quem se trabalha (politicamente) há mais tempo e com as quais se estabeleceu uma relação de confiança – como será o caso de um chefe de gabinete, um assessor, etc. Convém, aliás, sublinhar que o exercício dessas funções cessa quando um Governo dá lugar a outro.

A mim preocupam-me muito mais as milhentas nomeações que são feitas para cargos na administração pública nas vésperas de um Governo cessar funções, garantindo empregos aos correligionários (quase sempre em cargos de topo) e ultrapassando os trabalhadores do Estado (ou de empresas públicas) nesse desiderato – e, nessa circunstância, creio que PSD e CDS não são, propriamente, exemplos de probidade a seguir.

O discurso fácil “anti-partidos” e “anti-políticos” alimenta-se muito deste tipo de fait-divers. Muitos dos que criticam os “políticos” por tudo e por nada são aqueles (e aquelas) que nunca estão disponíveis para dar a cara (e para trabalharem) ao nível local, por exemplo, nos diversos órgãos das suas freguesias ou municípios, esperando que outros (ou outras) se disponibilizem para tal, para depois ainda os rotularem depreciativamente na primeira oportunidade.

Desta forma é óbvio que se restringe o “círculo” de pessoas envolvidas na atividade política e que, potencialmente, possam ser chamadas a desempenhar cargos de maior responsabilidade no âmbito dessa atividade – e certamente não serão aqueles que se auto-excluem que depois se poderão queixar da participação de outros.

António Luis Lopes,
Deputado Municipal / Líder de bancada do PS na Assembleia Municipal de Sintra

P.S. – O acima exposto não anula a necessidade de reflexão sobre algumas “carreiras” políticas meteóricas, nomeadamente de elementos das juventudes partidárias, muitos deles sem qualquer outro currículo profissional que não seja o de sucessivas eleições internas e nomeações para cargos de confiança.

Como diz o povo – vão-se “protegendo” uns aos outros, muitas vezes de forma tão “violenta” que “secam” qualquer possibilidade de evolução a membros dos próprios partidos, ainda que melhor preparados ou com currículos profissionais relevantes. Isso, sim, é outra forma de alimentar os populismos – porque é bem real, “mina” a participação cívica nos partidos e nivela por baixo o nível dos atores políticos num determinado contexto.”