Alunos de Sintra formam cordão humano em defesa das pegadas de dinossáurios de Carenque

Um grupo de alunos da Escola Básica Professor Galopim de Carvalho, em Queluz formou esta terça-feira, um cordão humano à volta das pegadas de dinossáurios. A missão é salvar as pégadas da jazida de Carenque, que se encontra votada ao abandono e esquecimento.

Cerca de uma centena de alunos da Escola Básica Galopim de Carvalho, no Pego Longo, na União das Freguesias de Queluz e Belas, no concelho de Sintra, formou esta manhã de terça feira, um cordão humano junto das pegadas de dinossauros de Carenque, que teve como propósito, chamar a atenção e sobretudo apelar à construção de um museu que preserve aqueles vestígios paleontológicos.

Na ação também participou o professor Galopim de Carvalho, “patrono” da escola, mas, apesar de a Proteção Civil Municipal de Sintra ter disponibilizado um jipe para facilitar a deslocação à antiga pedreira, “uma zona intransponível” obrigou o geólogo, de 87 anos, a assistir “do cimo de um barranco” à manifestação dos alunos, contou a professora.

A jazida de pegadas de dinossauros de Carenque, descoberta em 1986 numa pedreira desativada da então freguesia de Belas, transformada em lixeira, está localizada numa delgada camada de calcário do Cretácico, com cerca de 92 milhões de anos, e foi classificada em 1997 como “monumento natural”.

Segundo explicou Galopim de Carvalho, numa nota a que a Lusa teve acesso, a “importante jazida paleontológica corresponde a uma superfície rochosa com cerca de duas centenas de pegadas”, de onde sobressai “um trilho com 132 metros de comprimento, no troço visível, formado por marcas subcirculares, com 50 a 60 centímetros de diâmetro, atribuídas a um dinossáurio bípede”.

“Além deste, considerado na altura o mais longo trilho contínuo da Europa, identificaram-se, na mesma superfície, pegadas tridáctilas atribuíveis a carnívoros (terópodes), parte delas igualmente organizadas em trilhos”, acrescentou.

Recorde-se, o investigador liderou, em 1982, uma campanha para a preservação das pegadas, ameaçadas pela construção da CREL, conhecida como “a batalha de Carenque”, que culminou na abertura da via em túnel sob a jazida, num investimento acrescido de oito milhões de euros (um milhão e seiscentos mil contos, na época).

A maquete do projeto está à guarda da escola de Pego Longo, o que levou os alunos a escreverem uma carta ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a questionar se foi gasto “tanto dinheiro para nada” e prometendo ajudar “a cumprir” o sonho do “patrono” da escola de ver o espaço musealizado.

“Uma vergonha!”

O professor Galopim de Carvalho é um símbolo nacional da defesa e preservação do património cultural e científico, nomeadamente de sinais marcantes da riquíssima evolução da história natural, e o rosto mais conhecido da luta pela preservação do trilho de pegadas de dinossauros de Carenque, nos anos 90. [foto: Facebook]

Dias antes, o professor Galopim de Carvalho esteve na
Escola Básica Professor Galopim de Carvalho, em Queluz (Agrupamento de JI e Escolas Professor Galopim de Carvalho), de que é patrono, para participar de uma conversa com alunos e docente do secundário, sobre os mais diversos assuntos da atualidade.

“Falámos (todos e muito) da poluição crescente, fruto de uma desumanizada procura do lucro por parte de uma parcela mínima da sociedade, e das inevitáveis consequências na saúde do Planeta e na vida das populações, em particular, das mais desprotegidas”, escreve o professor na sua página de facebook.

Mas não só. “Falámos da fome que atravessou a História de Portugal e da fome no mundo e vimos imagens confrangedoras e revoltantes desta indignidade que o dinheiro, ‘escondido’ na Banca e o investido na indústria da guerra, podia inverter”, conta Galopim de Carvalho, patrono da Escola.

Entre outros assuntos, “também falámos da geologia local e do património geológico ao abandono, como é o caso da jazida com pegadas de dinossáurios, de Pego Longo (Carenque), totalmente ignorada pelos responsáveis da administração. Uma vergonha!”, lamentou o professor.

Recorde-se, na internet corre uma petição pública, para salvar as pegadas de dinossauros de Carenque, advoga “a imediata limpeza do local” e “vigilância mais frequente”, apelando “ao avanço da musealização, através da construção do ‘pegário’, com a já pensada estrutura em vidro sobre as várias pistas, por forma a preservar definitivamente o local”.

(…) Falámos da geologia local e do património geológico ao abandono, como é o caso da jazida com pegadas de dinossáurios, de Pego Longo (Carenque), totalmente ignorada pelos responsáveis da administração. Uma vergonha!” — Galopim de Carvalho