Por vezes, a par das caminhadas de manutenção, apetece-me simplesmente passear a pé, poder parar quando me apetece e apreciar tudo o que possa estar ao alcance do meu olhar. Foi o que aconteceu há dias, depois de um almoço em S. Pedro de Sintra, após o qual dispensei a boleia que me tinha levado e pus os pés ao caminho em direcção à Vila.
Após o Arrabalde, deparo com o novo Gandarinha que ultimamente tem vindo a ser bastas vezes mencionado nas redes sociais. A ideia que me deu, foi que teriam adicionado fermento ao cimento e aquilo cresceu, cresceu, a fazer lembrar os bolos da avó que também crescem, crescem… A diferença é que sempre gostei dos bolos da avó, mas acho deplorável o novo Gandarinha.
Continuando o caminho rumo ao Centro Histórico, bebi um gole da água da Sabuga, não por ter sede, mas por força do hábito. Continuando a descer cheguei ao largo Dr. Carlos França (Pizões), onde virei à direita em direcção à Vila, manobra só possível porque ia a pé, caso fosse de carro o meu destino teria de ser Colares, uma medida tomada pela autarquia em Março de 2018 e que parece já ter tido melhores adeptos, isto a julgar pelas expressões de dois amigos com comércio no Centro Histórico, onde um afirmou que estavam a matar a Vila e outro confessou quebra de vendas na casa dos 60%. A ser mal geral na zona, seria urgente rever a situação do trânsito, sem que se volte ao caos anterior. Mas isso é algo que, dado a prática corrente, não acredito que o actual executivo camarário o venha a fazer.
Chego ao centro da Vila dominado pelo Palácio Nacional, que têm agora, mesmo ao lado, um novo monumento sintrense, a Grua que emerge das ruínas do antigo Hotel Neto, onde Ferreira de Castro escreveu muitas das palavras que nos legou.
Continuando o plano traçado para aquele passeio, vislumbro o antigo Hospital da Misericórdia, hoje um edifício fechado, sem qualquer utilidade a não ser o fazer-nos lembrar que Sintra, actualmente, de hospital só tem promessas.
Entro na Volta Duche, onde hoje em dia é mais fácil e agradável de passear em modo pedonal, isto mercê das alterações de trânsito de Março de 2018, apresentando-se como uma das virtudes da medida, mas a conviver com muitos defeitos que a nova solução veio trazer. Nesta via, em frente à fonte neo-mourisca, deparo-me com um exótico estacionamento em espinha e o exotismo vem do facto o sentido do estacionamento ser ao contrário do sentido do trânsito, uma das originalidades nascidas em Março de 2018.
No final da Volta do Duche deparo-me com uma recente rotunda e de utilidade difícil de explicar, principalmente desde que não há fluxo de trânsito proveniente do Rio do Porto. Como só há transito proveniente da rua Alfredo Costa e da Volta do Duche a rotunda não está ali a fazer nada e, salvo melhor opinião, a situação anterior revelava-se mais eficaz… Mas os engenheiros é que sabem!
Com o bonito edifício dos Paços do Concelho para trás, percorro a avenida Miguel Bombarda e Alameda dos combatentes da Grande Guerra e divirto-me a ver os carros a rolarem sobre o piso de paralelepípedo e a abanarem por todos os lados, mais parecendo estarem a navegar em mar de águas bem revoltas.
O meu divertimento não parece ser partilhado pelos ocupantes dos veículos automóveis e muito menos, a julgar pelas suas expressões, pelos condutores.
Não demorei a chegar a casa, mas zangado comigo mesmo, no passeio entre S. Pedro e a Portela de Sintra, perdi-me entre ninharias e passei completamente ao lado da Sintra romântica.
José do Nascimento