É um exagero o que se está a verificar, mais uma vez, na cobertura televisiva do grande incêndio que lavra em Monchique.
Jornalistas desenfreados, sem olhar ao perigo, seguem o rasto do fogo e fazem perguntas absurdas às populações lezadas, comentadores de tudo e de nada, os mesmos de sempre, alguns dos quais sem bases, esgrimem argumentos que já cansa escutar, ano após ano.
Deveria caber, à comunicação social, um papel verdadeiramente informativo e pedagógico, a jusante dos incêndios, fomentando hábitos de prevenção, o que não acontece. O que vemos, com regularidade, são jornalistas a fazer lembrar investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária.
Faz falta um jornalismo cívico, um jornalismo de causas!
Um ano – o tempo decorrido sobre os trágicos incêndios em Pedrógão Grande e no Pinhal de Leiria – é manifestamente pouco para dar cumprimento ao que foi ignorado durante sucessivas décadas. Por outro lado, exceptuando honrosas excepções, muitos parecem ter adormecido sobre o assunto, desvalorizando factores vulneráveis ao risco, consubstanciados no continuado estado de abandono da floresta portuguesa.
Parece de novo demonstrado que, na esfera da Protecção Civil, apesar das alterações operadas nos órgãos de cúpula e ao nível estratégico, persistem fragilidades na sua acção coordenadora, não sendo este, contudo, o momento indicado para se apurarem responsabilidades.
(…) O que vemos, com regularidade, são jornalistas a fazer lembrar investigadores do Ministério Público e da Polícia Judiciária. Faz falta um jornalismo cívico, um jornalismo de causas!
Restam os Bombeiros, aqueles que nada têm a ver com o problema e procuram ser sempre solução, por mais que criticados, incompreendidos e, por vezes, até, quase impedidos de desempenharem a sua função, por tentativas de intromissão de forças sem vocação para o efeito. Poderão não ser suficientes, poderão não ter todos os meios, mas são eles que vão para o terreno, debaixo de condições complexas, determinados a enfrentar a adversidade, dispendendo um esforço que os leva até à exaustão. São eles que avançam quando todos fogem!
Pelos Bombeiros, que arriscam as suas vidas, pelas populações atingidas, que perderam os seus haveres, haja respeito e decência na exposição mediática.
Luís Miguel Baptista
Presidente da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém; Presidente da REVIVER MAIS – Associação dos Operacionais e Dirigentes dos Bombeiros Portugueses, IPSS