Margarida Mota | Estou farta!

"Já estou farta de ser apenas um contributo para a ascensão politica de algumas pessoas, farta de que se sirvam do meu esforço, da minha dedicação e venham agora jogar a opinião publica, contra nós, com estatísticas da OCDE, sobre vencimentos de professores"

Já estou farta de ser apenas um contributo para a ascensão politica de algumas pessoas, farta de que se sirvam do meu esforço, da minha dedicação e venham agora jogar a opinião publica, contra nós, com estatísticas da OCDE, sobre vencimentos de professores.

Não me digam! Mudei para o 9.º escalão e só senti mudança no escalão do IRS, pois no vencimento, significou 90 euros a mais, por mais de 10 anos congelada. Com 38 anos de serviço, várias avaliações com aulas supervisionadas, 210 alunos, sete turmas, duas escolas, básica e secundária, sete projectos que dinamizo, sem horas de redução, fora do meu horário, para ajudar os alunos a crescer como cidadãos, direção de turma, 57 anos de idade, dedicação total e exclusiva aos alunos e à escola, divorciada e ainda com um menor a cargo e um pai com 90 anos, entro às 08h00 e saio às 18h00 e trago para casa 1600 euros… Acham muito, tendo em conta o desgaste, as responsabilidades de acompanhar crianças que nem apoio têm das famílias?

Acham muito… quando venho para casa, em vez de ter tempo para os meus e para aquilo que gosto, tenho aulas para preparar, 210 testes para fazer e corrigir, sou professora, psicóloga, assistente social, mãe de tantos, há 38 anos. Acham pouco?

Mas entretanto, este Estado que me nega o direito a que me seja contado o tempo que, efectivamente cumpri, não se coíbe, de me fazer pagar as dívidas dos bancos ou os roubos dos corruptos, sem me perguntar nada; este Estado, usa-me, porque não posso fugir a impostos, para financiar as viagens dos deputados oportunistas e pagar os assessores e o séquito dos políticos; este Estado, não apoia os meus colegas deslocados para longe das suas residências, como faz com os juízes; este Estado, ajuda sim, a destruir famílias, separadas por estas razões e cuja estrutura familiar e abalada pela angustia de cada concurso. Acham pouco?

(…) quando venho para casa, em vez de ter tempo para os meus e para aquilo que gosto, tenho aulas para preparar, 210 testes para fazer e corrigir, sou professora, psicóloga, assistente social, mãe de tantos, há 38 anos. Acham pouco?

Então, não prometessem, não mentissem, fossem honestos, nós só estamos a pedir aquilo a que temos direito, nada mais e ainda por cima, de forma faseada, porque entendemos o esforço que representa para o pais, não pedimos nada mais, muito menos do que aquilo que temos pago para os bancos, as reformas e as viagens dos deputados, aqueles senhores a quem são atribuídas reformas chorudas, com dois ou três mandatos na Assembleia da República e todas as mordomias.

Eu sou socialista e apesar das desilusões, nunca traí a minha ideologia mas… Basta! Quando enchem a comunicação social, com os resultados do PISA ou da OCDE, somos importantes, quando lutamos pelos nossos direitos, somos uns ‘bandidos’…

Entretanto, ministros e ex-primeiros ministros, vão construindo carreiras externas a custa dos resultados conquistados com o nosso esforço! Estou farta.

Margarida Mota