Luis Miguel Baptista | Contributo para a História da Inspecção-Geral do Serviço de Incêndios do Concelho de Sintra

(...) "Acto de justiça não menos significativo foi aquele que se viveu em Seteais, no decurso da mesma cerimónia. Ou seja, a imposição de medalhas, ao que supomos de “Bons Serviços e Dedicação”, da CMS, a elementos dos diferentes corpos de bombeiros (...)"

As expressivas imagens que apresentamos remetem-nos a Setembro de 1928, altura na qual se realizou no campo de Seteais, com a presença do Presidente da República, general Óscar Carmona, a primeira parada conjunta dos bombeiros do concelho de Sintra, fruto da iniciativa dos respectivos comandantes mas também da organização então em curso liderada pela Câmara Municipal de Sintra (CMS), por via da recém-criada Inspecção-Geral do Serviço de Incêndios do Concelho de Sintra (1927).

É, contudo, o jornal “O Fogo”, de 15 de Setembro de 1928, que oferece uma detalhada reportagem sobre o evento, começando por nos situar no espaço, “decorado com mastros, bandeiras e galhardetes, sendo extraordinária a afluência de povo”.

À chegada, descreve aquele periódico, o Chefe de Estado “passou revista às secções de Sintra, Colares, S. Pedro, Queluz, Belas e Almoçageme, que na sua máxima força formavam em parada a meio do campo, com os respectivos ternos de corneteiros”.

Coube ao tenente Mário Pimentel, na qualidade de inspector-geral, também vereador com o pelouro dos Incêndios, saudar o Presidente da República e demais entidades convidadas, salientando os fins do organismo que representava, consubstanciados em dar “orientação uniforme, nos seus vários aspectos, às diversas associações que compõem o corpo”.

Convém esclarecer que, ao tempo, o universo dos bombeiros do concelho de Sintra, limitado a seis associações/corpos de bombeiros, formava no seu todo, por norma regulamentar da Inspecção, o Corpo de Bombeiros Voluntários do Concelho de Sintra.

Palavras oportunas
do representante da Inspecção-Geral
do Serviço de Incêndios do Concelho de Sintra

“Luta a Câmara Municipal de Sintra, como todas as suas congéneres, com a falta de verba necessária para dar um maior incremento ao seu serviço de incêndios, modernizando-o tanto quanto possível”, afirmou o inspector no seu discurso, aproveitando a presença do mais alto dignatário da nação para expor a causa do problema: “Sabedor das dificuldades que assoberbam as câmaras, os governos acorreram em seu auxílio, pondo em execução a lei n.º 1453, que, pelo seu artigo 11.º, dá às câmaras municipais, que mantenham ou subsidiem serviços de incêndios, a faculdade de receberem das companhias de seguros dez por cento das importâncias de seguros, etc. Porém, pelo decreto n.º 13 588, de recente data, foi essa percentagem alterada de dez para três, o que veio sobremaneira prejudicar as câmaras municipais, em exclusivo benefício das companhias de seguros e, assim, direi a V. Exa. que, devendo receber a Câmara de Sintra, no ano de 1927, 23 545$50, apenas recebeu, 7848$40.”

Numa tribuna, onde tomara lugar de destaque, o general Carmona ouviu com atenção a exposição e, de igual modo, o pedido para que fosse reposta a maior percentagem, conforme situação anteriormente vigente.

De acordo com o relato de “O Fogo”, o Presidente da República solicitou mais tarde ao tenente Mário Pimentel “todos os elementos necessários que o habilitassem a tratar da modificação do decreto 13 588 e trocou igualmente impressões com o sr. major Moura Governador Civil de Lisboa que igualmente patrocinou a pedida alteração”, escrevendo o repórter, ainda propósito: “É provável que os bombeiros portugueses venham assim a beneficiar das palavras do Inspector de Incêndios de Sintra sendo-lhes feita justiça.”

Acto de justiça não menos significativo foi aquele que se viveu em Seteais, no decurso da mesma cerimónia. Ou seja, a imposição de medalhas, ao que supomos de “Bons Serviços e Dedicação”, da CMS, a elementos dos diferentes corpos de bombeiros, momento, aliás, registado pela objectiva do fotógrafo da “Ilustração”. É visível, para além da revista às forças em parada, o Chefe de Estado a condecorar dois distintos comandantes: José Maria de Oliveira, dos Bombeiros Voluntários de Colares, e Joaquim Maria de Oliveira Cunha, dos Bombeiros Voluntários de Sintra (medalhas de Ouro).

A encerrar realizou-se um desfile apeado e motorizado dos bombeiros em formatura, nas ruas da vila de Sintra, passando “entre alas campactas de povo, que os vitoriava, enquanto as senhoras, das janelas despejavam sobre eles verdadeira chuva de flores”.

 

Luis Miguel Baptista, Jornalista. Presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (AHBVAC); Presidente do Conselho de Administração Executivo da REVIVER MAIS – Associação dos Operacionais e Dirigentes dos Bombeiros Portugueses, IPSS