Luis Miguel Baptista | Por um Voluntariado com futuro

    (...) "O socorro imediato à população não pode depender do toque da sirene ou de outros meios convencionais de alerta. O Voluntariado tem toda a razão de existir, quer como base de recrutamento, quer como Escola de Civismo… mas, inevitavelmente, subordinado a novos padrões organizativos e funcionais."

    O Voluntariado representa a espinha dorsal da esmagadora maioria dos Corpos de Bombeiros em Portugal.

    Desde 1868, ano da fundação da primeira Companhia de Voluntários Bombeiros (Bombeiros Voluntários de Lisboa), que constitui uma expressão moral e cultural da nossa gente, no domínio da solidariedade.

     
    Todavia, por força das múltiplas transformações verificadas na sociedade, é legítimo que se questione o tradicional modelo de Voluntariado nos Bombeiros.
     
    Um facto indesmentível: hoje, sobretudo, no meio urbano, devido aos aumentados riscos, a primeira intervenção tem de ser assegurada por pessoal em permanência, abrangendo o período de 24 horas. O socorro imediato à população não pode depender do toque da sirene ou de outros meios convencionais de alerta. O Voluntariado tem toda a razão de existir, quer como base de recrutamento, quer como Escola de Civismo… mas, inevitavelmente, subordinado a novos padrões organizativos e funcionais.
     
    De resto, este tema é inesgotável em termos de reflexão, porquanto tem a ver com outros não menos importantes: o financiamento das Associações Humanitárias de Bombeiros e a estruturação do sistema a que os Bombeiros pertencem, cujos modelos requerem ser muitíssimo repensados.
     
    Voltando ao Voluntariado…
     
    Em primeira instância, deverá caber aos Comandantes dos Corpos de Bombeiros, no plano das suas competências, manter o Voluntariado, mediante uma liderança firme e mobilizadora.
     
    A disciplina; a formação exaustiva do pessoal, suportada em modelos educacionais e em práticas didácticas; a oferta de instalações condignas; a promoção de atractivos programas de ocupação versando a temática operacional, tendo as camadas jovens como potenciais destinatárias; a valorização do quadro de chefias, enquanto elemento dinamizador dos programas atrás referidos; incentivos sociais abrangentes, de proveniência interna e externa… Estes são alguns dos aspectos indissociáveis da manutenção, transformação e dignificação do Voluntariado nos Corpos de Bombeiros, ao que acrescento, ainda, Direcções sensíveis e actuantes, fundamentadas em indispensável bom senso, arredadas de qualquer populismo barato e inconsequente.
     
    Salvo melhor opinião, só assim poderemos caminhar para um Voluntariado com futuro, ajustado às exigências da vida moderna e cada vez mais elevado à condição de Escola de Civismo, num tempo em que a decadência de certos princípios e valores importa contrariar… de modo criativo e inovador.
     
     
    Luis Miguel Baptista
    Ex-Presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém; Presidente do Conselho de Administração Executivo da REVIVER MAIS – Associação dos Operacionais e Dirigentes dos Bombeiros Portugueses, IPSS