Tia Aurora segue Estados Unidos da América, dia 25, três da manhã, um abraço primo António”. Foi através deste telegrama em código que Vasco Lourenço ficou a conhecer a data do golpe que vinham preparando. Depois foi o sucesso do movimento com o povo rua. Seguiram-se anos de agitação política, o fim do período de transição e a “injustiça” para com os militares de abril.

Contudo, “nessa madrugada do dia inicial, inteiro e limpo (como poetizou Sophia de Mello Breyner) os militares de Abril foram claros nas suas promessas: terminara a repressão, regressara a Liberdade, vinha aí o fim da guerra e do colonialismo, vinha aí a democracia”, recorda Vasco Lourenço.

A Revolução dos Cravos pôs fim ao isolacionismo a que Portugal estava condenado há já vários anos e ajudou ao nascimento de novos países independentes. O papel dos capitães de abril, que cumpriram todas as suas promessas e transformaram o seu acto libertador numa acção única na História da Humanidade.

Portugal Democrático

No início de 1973 a situação económica de Portugal não era boa. Uma década de guerra colonial obrigava a desviar muitas verbas para as despesas militares e a depressão económica mundial iniciada com o aumento dos custos do petróleo veio agravar as coisas. A inflação sobe, o escudo desvaloriza e o custo de vida aumenta.

Com o crescente descontentamento popular, acentua-se, igualmente, a luta das forças políticas da oposição. A partir deste ano surge um movimento clandestino, ao qual se juntam muitos oficiais das Força Armadas, sobretudo capitães.

Depois de várias reuniões, o MFA (Movimento das Forças Armadas) deixa preparar um golpe de Estado que conduza ao derrube do regime e à solução política da questão colonial.

O General António de Spínola ocupava, então, o lugar de vice-chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, e que era chefe o General Costa Gomes. As ideias defendidas pelo primeiro, preconizavam a autonomia das colónias e a formação de uma Federação que englobasse as antigas províncias ultramarinas portugesas, o que não agradou ao governo.

A pressão dos sectores mais direitistas do regime, leva a que Marcelo Caetano demita Spínola do seu cargo, assim como o general Costa Gomes. É assim que o MFA acaba por obter o apoio destes oficiais-generais, pouco antes do golpe militar.

Madrugada de 25 de abril

Na madrugada de 25 de Abril de 1974, o MFA inicia as operações, planeadas e dirigidas pelo major Otelo Saraiva de Carvalho. A estratégia das operações militares exigia que todas as unidades saíssem dos quartéis a uma determinada hora, a caminho dos objectivos que lhe haviam sido atribuídos.

Para as tropas iniciarem o movimento, foi transmitida, como sinal pela Rádio Renascença, a canção Grândola, Vila Morena, de Zeca Afonso, à uma da manhã.

Sem grande resistênca das forças leais ao Governo e sem derramamento de sangue, todos os principais objectivos foram conquistados ao longo do dia.

O movimento teve uma adesão popular imediata. As pessoas saíram à rua para cumprimentar os soldados e distribuíram-lhes cravos, que se tornariam um dos símbolos da revolução e que se mantêm, 44 anos depois!

 

Fotografias: DR RTP / arquivo