A edição online da revista Visão revela este sábado que um manifesto contra o turismo, lançado pelo movimento QSintra, considera estar em perigo a zona classificada como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO. A Câmara de Sintra esclarece que, o manifesto dirigido “e que envolve várias entidades e organismos públicos”, apresenta um conjunto de “acusações sem qualquer adesão à realidade e que não contribuem para proteger e salvaguardar o presente e o futuro da vila de Sintra”.
“Aos fins-de-semana, ou sempre que há um maior afluxo de turistas, o trânsito é insuportável. Demora-se horas a fazer percursos que, em circunstâncias normais, demorariam minutos”, descreve Madalena Martins, 63 anos, residente em São Pedro de Penaferrim, e uma das promotoras do manifesto Salvar Sintra em declarações à Visão. “É triste ver esta degradação da nossa qualidade de vida”, lamenta a ex-consultora de comunicação.
Madalena Martins identifica, o despovoamento da zona histórica como um dos fatores de descaracterização da vila: “As casas que vão ficando vazias estão a ser todas direcionadas para o turismo e, assim, o centro histórico deixa de ter vida própria”
Entre as queixas deste grupo de residentes está, também, “a falta de planeamento e critério na gestão urbana”. Madalena Martins fala em “aberrações”, apesar de reconhecer a importância da recuperação dos edifícios ao abandono.
Num esclarecimento enviado ao SINTRA NOTÍCIAS a Câmara de Sintra defende que, “tem sempre demonstrado princípios de transparência e de debate em torno de todas as questões e problemáticas sobre o futuro do município de Sintra onde se inclui a sua vila Património da Humanidade”.
A autarquia sublinha também que, “os dados apresentados no documento são falsos, tentando criar uma imagem da vila de Sintra que não corresponde à realidade”.
Às acusações de “projetos com excessiva área de construção, destruição e descaracterização de fachadas, utilização de materiais sem qualidade e outros elementos dissonantes estão a degradar a paisagem urbana e a colocar maior pressão sobre o eco-sistema, a mobilidade e a vida das pessoas” , a autarquia esclarece que “o estado de abandono e degradação de muitos dos imóveis na vila de Sintra, que, durou várias dezenas de anos perante o silêncio de muitos, está finalmente a ser combatido, com um conjunto de recuperações e investimentos que salvaguardam os valores do Património da Humanidade”.
A Câmara de Sintra lembra que, “preservar não é abandonar” e que o documento revela “vários exemplos de afirmações absolutamente falsas e sem adesão à realidade”. Segundo a autarquia é importante esclarecer que “não há nova construção na vila de Sintra”, mas antes “requalificações de imóveis abandonados e em ruínas há várias anos, as quais implicam, obrigatoriamente, a preservação das fachadas e o respeito pelos valores do Património da Humanidade”.
Para o movimento é decisivo e urgente “conter a pressão deste suposto desenvolvimento, mudar esta visão sem futuro”. Mas a autarquia defende que, “ao contrário do que é defendido, aquilo que se assiste na vila de Sintra é um renovado interesse dos proprietários para reabilitarem os edifícios, que foi acompanhado pela autarquia na criação de dois instrumentos de regulação, a alteração ao regulamento do PDM em 2016, e o novo regulamento de urbanização e edificação publicado em 2017”.
Se a autarquia de Sintra defende que, “o futuro da vila de Sintra não passa por deixar tudo na mesma”, e que o “abandono e falta de estratégia que existia no passado, seria a pior forma de lidar com o grande aumento do número de visitantes que se verificou nos últimosanos”, já o movimento quer que, “Sintra evolua sem ser descaraterizada por um progresso autofágico, mono-especializado num turismo sem futuro”.
Outra das acusações do movimento é que, “é urgente investir na proteção da floresta, na limpeza, na sua diversidade e no repovoamento das espécies apropriadas, incluindo as autóctones”. Por seu lado a Câmara lembra que, “a autarquia criou no mandato passado os grupos de intervenção, uma equipa de sapadores florestais de bombeiros fundamental do ponto de vista preventivo, assegurando ainda a vigilância contra incêndios e o seu combate”. A autarquia “também elaborou protocolos com os Comandos e o Regimento de Artilharia Anti-Aérea nº1 para a defesa das suas serras e a manutenção das minas de água”. A Câmara de Sintra defende ainda que hoje, “a Serra de Sintra é limpa e alvo de manutenções constantes, uma mudança relativamente ao passado recente que permitiu voltar a colocar a Serra de Sintra no centro das preocupações do município”.
O manifesto afirma ainda que pretende “juntar nesta interpelação as vozes de todos os cidadãos preocupados com as ameaças e ataques à paisagem cultural de Sintra”, enquanto a autarquia lembra que, “hoje a vila de Sintra tem uma estratégia clara de desenvolvimento, que passa por manter os seus valores de Património da Humanidade e permitindo que todos possam beneficiar e usufruir do no paradigma da gestão do território, integrando o setor do turismo nessa visão de futuro”.
À Visão os membros do movimento QSintra revelam que planeiam estar presentes nas sessões públicas da autarquia, a Câmara Municipal assume que irá esclarecer e debater todas as questões levantadas.