Foto da associação Alagamares durante um protesto contra o abate de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais

O presidente do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) admitiu hoje no parlamento que “se tudo isto se tivesse passado com os procedimentos normais neste momento [as árvores] estavam a ser abatidas”, admitindo também que não existe nenhum estudo que suporte a decisão do ICNF de cortar cerca de 1400 árvores em plena paisagem protegida.

O dirigente admitiu que vão “continuar as avaliações para nos próximos 15 dias tentar perceber se está tudo dirimido” e verificar se ainda pode avançar com o procedimento de corte e venda do material lenhoso, caso contrário “só depois do verão” segundo a LUSA.

O responsável do ICNF defendeu no entanto que o corte de mais de um milhar de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais “não é uma questão economicista”, mas uma obrigação legal. “Estamos numa mata, naquele corredor, onde a função não é produção, a função é de recreio, é de lazer e é de conservação” e a intervenção prevista visa a transformação do espaço “numa área com melhores condições”, afirmou Rogério Rodrigues, na Assembleia da República.

O dirigente falava numa audição da comissão parlamentar de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, para prestar esclarecimentos sobre um requerimento do Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) sobre o eventual abate de milhares de árvores no Parque Natural de Sintra-Cascais.

A marcação de mais de um milhar de árvores ao longo de cerca de cinco quilómetros junto da Estrada Nacional 9-1, entre a Malveira da Serra e a Lagoa Azul, e dentro da serra, tem motivado a contestação de deputados, associações ambientalistas, cidadãos e autarcas.

O presidente do ICNF recusou as críticas manifestadas contra o projetado corte de arvoredo, alegando que o instituto que tutela a área protegida de Sintra-Cascais já levou ao terreno “outros técnicos” externos aos serviços para avaliar a intervenção prevista.

“Estaria a mentir, se dissesse que fiz um estudo prévio para o abate das 1.400 árvores”, afirmou Rogério Rodrigues, explicando que os silvicultores e biólogos do ICNF propuseram o corte de 1.400 árvores, de mais de 5.000 árvores que deveriam ser abatidas, que após duas avaliações “passou para 1.352”.

O deputado José Luís Ferreira (PEV) apontou o receio de se estar “a preparar um verdadeiro atentado” na área protegida de Sintra-Cascais, com o “possível abate de milhares de árvores”, incluindo pinheiros, cedros e carvalhos.

A deputada Helena Roseta, do PS, quis saber como era possível que a Câmara de Sintra não tenha sido consultada, no seguimento das críticas do presidente da autarquia, notando que ao “nível da comunicação” o processo não tem corrido bem.

A deputada Ana Virgínia Pereira salientou que o PCP não se opõe a “cortes por motivo de segurança rodoviária”, mas estranhou que sejam mantidos eucaliptos no mesmo espaço onde existem outras espécies marcadas para abate.