O presidente da Câmara de Mafra condenou na noite de quinta-feira o atraso no início das obras de requalificação dos carrilhões e sinos do palácio, que estão a ser sujeitos a novo escoramento para evitar o risco de queda.
“Era suposto que as obras começassem o quanto antes porque o palácio comemora este ano os seus 300 anos [o ponto alto do programa é a 17 de novembro]. Vão decorrer durante 15 meses e nunca mais avançam”, afirmou Hélder Sousa Silva, na Assembleia Municipal.
O autarca adiantou que, por força do atraso das obras e do risco, o palácio “está a reforçar o escoramento dos sinos” e admite criar uma faixa de proibição de passagem em frente ao monumento, para evitar quaisquer acidentes em casa de queda de algum sino.
Questionado pela agência Lusa, o Ministério da Cultura esclareceu que “não é possível avançar com uma data” para o início das obras, justificando que o processo está no Ministério das Finanças à espera de autorização para a transição do saldo do Fundo de Salvaguarda do Património Cultural.
Ultrapassado esse processo, vai ser ainda submetido ao visto prévio do Tribunal de Contas, antes de a empreitada ser adjudicada.
Concurso lançado em 2015
O concurso público, do qual já é conhecida a empresa vencedora, foi lançado em setembro de 2015 com um valor de 2,3 milhões de euros.
Na portaria, o Governo justifica as obras, ao reconhecer que se trata de um “conjunto histórico de valor patrimonial único no mundo” e que carece de “reabilitação urgente face ao avançado estado de degradação”, que acarreta “riscos de segurança não só para o património, como para utentes do imóvel e os transeuntes da via pública”.
Os sinos têm sido sustentados por andaimes, que requerem “sucessivas intervenções de escoramento, consumindo recursos e requerendo uma atenção permanente devido à exposição a ambiente salino muito agressivo”, refere.
Para o Governo, as obras “devolverão” ao palácio “o seu papel ímpar a nível mundial no campo dos instrumentos musicais integrados em património arquitetónico, dado que não existe no mundo uma basílica com seis órgãos de elevado valor artístico e histórico e com dois carrilhões”.
Em outubro de 2014, uma equipa de especialistas internacionais já tinha alertado para a urgência das obras, ao deslocar-se ao monumento no âmbito de uma ação da organização europeia do património Europa Nostra, que, em maio desse ano, colocou Mafra entre os sete monumentos mais ameaçados da Europa, alertando para a urgência da intervenção.
A recuperação torna-se fundamental para o Estado e a Câmara de Mafra candidatarem o monumento a Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Os dois carrilhões e 119 sinos — o maior dos quais pesa 12 toneladas – constituem o maior conjunto sineiro do mundo, sendo, a par dos seis órgãos históricos e da biblioteca, o património mais importante do palácio.