Parques de Sintra adquire leito histórico para o Palácio Nacional de Sintra

    Raríssimo leito de dossel português, em ébano e prata o único existente em território nacional

    Leito Aparato Espaldar | Imagem: PSML Claudio Marques

    A Parques de Sintra adquiriu para o Palácio Nacional de Sintra um raríssimo leito de dossel português, em ébano e prata, datável de finais do século XVII, início do XVIII. Dado o valor dos materiais utilizados no seu fabrico, a quase totalidade dos móveis deste tipo não subsistiu até aos nossos dias, sendo este leito o único existente em território nacional.

    Divulgado em 1953 pelo médico e historiador Reinaldo dos Santos na “História da Arte em Portugal”, este móvel de aparato, de grandes dimensões (alt. 2,90 x larg. 2,10 x prof. 2,32 m), pertencia à marquesa Olga de Cadaval e seria dez anos mais tarde vendido num leilão da extinta Leiria & Nascimento, voltando ao mercado em 2003 na Feira de Antiguidades da FIL.

    Dada a excecionalidade da peça, chegou então a ser considerada a sua aquisição para o Palácio Nacional de Sintra, um dos poucos edifícios com enquadramento histórico e escala para o acolher, facto que só agora se consumou.

    A incorporação desta obra de referência no património artístico nacional era, de resto, há muito reivindicada por especialistas que se debruçaram sobre a peça. Num estudo publicado em 1972, Bernardo Ferrão defendeu de forma veemente a sua aquisição pelo Estado, o mesmo sucedendo com Artur Sandão, que chegou a lamentar e dar como certa a sua venda para o estrangeiro.

    Peça única em território nacional

    O leito “Cadaval” é em ébano revestido por placas em prata repuxada e cinzelada, tal como os ramos com flores e os elementos cónicos que encimam o espaldar e os remates do dossel, sugerindo ciprestes. Em latão dourado são apenas os anéis de união dos colunelos do espaldar e dos montantes.

    O ébano e a prata eram utlizados em móveis muito excecionais, de cuja existência nos dão conta as fontes documentais relacionadas com a casa real e a alta nobreza, como o exemplar citado no “Inventário e sequestro da Casa dos marqueses de Távora”, aquando da sua execução no reinado de D. José I.

    No decurso do processo de aquisição deste leito, peça única em Portugal, identificou-se um outro em Espanha com bastantes afinidades com o presente. Pertence ao tesouro da Basílica de Santa Maria de Elche, a quem foi legado por Gabriel Ponce de Léon e Lencastre, duque de Aveiro e marquês de Elche.

    A peça saiu de Portugal em 1753 e, após ter sido então restaurada por um prateiro de Alicante, passou a ser utilizada na cerimónia litúrgica da “Octava de la Assunción”, servindo para apresentar a Dormição de Maria, costume que se mantém até ao presente.

    Conservação e investigação

    O leito irá agora ser sujeito a uma intervenção de conservação e restauro centrada na consolidação da estrutura e limpeza dos numerosos elementos metálicos que o constituem.

    Em paralelo, decorrerá uma investigação com o objetivo de aprofundar o conhecimento acerca da peça e tentar esclarecer algumas questões em aberto, nomeadamente o facto de se poder tratar de um leito matrimonial ou funerário. Num futuro próximo, decorrerá a sua exposição pública no “Quarto de Hóspedes” do Palácio Nacional de Sintra.

    Imagens / PSML Claudio Marques