António Capucho perturbado com perda de figura a quem se deve democracia

Óbito | Mário Soares morreu hoje aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa

O ex-dirigente histórico do PSD António Capucho, que deixou o partido há dois anos, disse hoje que a morte de Mário Soares era “esperada”, mas perturbou-o “muito intensamente”, pelo facto de ter sido responsável pelo “regime democrático e restauração das liberdades”.

Mário Soares morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, onde estava internado desde 13 de dezembro.

Na sua página do Facebook, António Capucho refere que “como todas as grandes figuras políticas”, Mário Soares “não foi isento de polémicas”, destacando três aspetos essenciais da sua longa vida política.

“Desde logo, nas lutas da oposição democrática ao regime anterior, nomeadamente nas campanhas eleitorais da CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática) e da CDE (Comissão Democrática Eleitoral), que apoiei, imediatamente antes da revolução dos cravos. Mário Soares contribuiu assim, de forma muito corajosa e decisiva, para a instauração de um regime democrático em Portugal”, afirma.

António Capucho lembra ainda que, a seguir ao 25 de Abril, muito se deve a Mário Soares o “sucesso do combate à tentativa das forças radicais no sentido de reverterem a revolução num regime totalitário de esquerda, culminada na derrota daquelas em 25 de Novembro”.

“Finalmente, destaco o empenho de Mário Soares, numa época em que tive a honra de integrar um Governo por ele presidido, nas negociações para adesão de Portugal à então CEE (Comunidade Económica Europeia), permitindo quebrar o isolacionismo a que fomos votados durante décadas”, acrescenta.

O ex-presidente da Câmara de Cascais lembra ainda o último almoço com Mário Soares, com quem trocou impressões sobre a situação político-partidária.

“Pude constatar que, apesar de já muito enfraquecido, mantinha todo o interesse pela vida nacional. A vida política portuguesa fica mais pobre e está de luto profundo. A toda a família, em especial aos filhos Isabel e João Soares, apresento as minhas mais sentidas condolências”, conclui.

Mário Soares desempenhou os mais altos cargos no país e a sua vida confunde-se com a própria história da democracia portuguesa: combateu a ditadura, foi fundador do PS e Presidente da República.

Nascido a 07 de dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares foi fundador e primeiro líder do PS, e ministro dos Negócios Estrangeiros após a revolução do 25 de Abril de 1974.

Primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, foi Soares a pedir a adesão à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e a assinar o respetivo tratado, em 1985. Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.