Marcelo espera bom senso e diálogo sobre Cova da Moura

O Presidente da República afirmou hoje esperar que os problemas patrimoniais e urbanísticos da Cova da Moura sejam resolvidos com bom senso e diálogo entre a Câmara Municipal da Amadora e o Governo, sem desalojar moradores.

“Vamos ver se é possível encontrar uma solução que cubra, por um lado, o relacionamento entre a Câmara e o Governo e, por outro lado, a questão também dos processos em tribunal sobre o usucapião, quer dizer, a possibilidade de quem vive há não sei quantos anos ficar não apenas com a posse mas com a propriedade, o que é contestado pelos proprietários”, declarou.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas na Cova da Moura, onde andou a pé durante cerca de duas horas, percorrendo as principais ruas e instituições do bairro, e depois almoçou no local.

O chefe de Estado defendeu que é preciso ter “a noção de que há aqui vidas que estão radicadas há muito, muito, muito tempo e que não é possível pegar nestas vidas e deslocalizá-las”.

“Vamos ver se, com bom senso, que é o mais importante, se encontra uma solução”, acrescentou.

Questionado sobre o motivo por que não incluiu esta visita na sua agenda oficial, o Presidente da República respondeu: “Não sei, gostava de saber, vou investigar quando chegar”.

Durante esta visita, Marcelo Rebelo de Sousa conviveu sobretudo com as crianças do bairro, que tem atualmente uma população estimada superior a 6.000 habitantes, ouviu queixas de moradores e abordou a questão da propriedade dos terrenos.

Sobre essa questão, disse “é um problema que está em tribunal, que tem de um lado os que vivem aqui há muito tempo e invocam o facto de o tempo ter permitido usucapião, quer dizer passarem a ter a propriedade daquilo de que são possuidores, e do outro os proprietários que dizem exatamente o oposto”.

“Como compreenderão, é fundamental que essas duas realidades se conjuguem e haja bom senso”, considerou.

De acordo com o chefe de Estado, existe outro “problema de fundo”, que “é o problema do diálogo entre o Governo e a Câmara”.

“E passa realmente por esse diálogo muito da solução de problemas deste bairro: uns patrimoniais, outros ambientais, outros de planeamento ou se quiser urbanísticos”, referiu.

A presidente da Câmara Municipal da Amadora, Carla Tavares, não acompanhou esta visita, invocando razões de agenda, segundo fonte da Presidência da República.

A arquiteta Helena Roseta, deputada pelo PS e presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, esteve presente e fez questão de falar ao Presidente da República sobre os problemas do bairro.

Logo à chegada, junto à creche São Geraldo, o Presidente da República ouviu a história de um dos primeiros moradores da Cova da Moura.

“Foi um grupo que veio de Angola essencialmente, que nos juntámos e viemos aqui num táxi. Éramos meia dúzia, cada um escolheu um espaço, e começou o bairro aí”, contou Ilídio Carmo.

“Devia escrever isso: como começou um bairro”, sugeriu o Presidente. No percurso que fez em seguida, o Presidente cumprimentou o maior número de pessoas possível, entrou nas casas para conversar com os moradores, ajudou uma mulher a estender a roupa e combinou com a cozinheira Eunice fazer uma cachupa no Palácio de Belém.

“Esse é um homem de comunidade, ele quer parar em todo o lado”, comentou um morador. Marcelo Rebelo de Sousa ainda furou o programa ao entrar numa escola básica para conviver com os alunos que lhe acenavam ao longe, e que ao vê-lo se agarraram a ele.

“Nem o Obama é como o Marcelo de Sousa. Marcelo de Sousa não é um Presidente, é amigo do povo”, exclamou o cantor Fortinho, antes de o saudar com um abraço.

O Presidente da República declarou-se impressionado com o espírito comunitário do bairro, que comparou a uma família:

“Este bairro tem uma força própria, tem uma alma própria”.

“Vamos ver como é que resolvemos os problemas”, acrescentou.

Lusa